O Federal Reserve, o banco central dos Estado Unidos, lançou nesta segunda-feira novas medidas para injetar recursos na economia, incluindo a compra de volumes ilimitados de dívida do governo, em meio a "severas perturbações" do impacto do coronavírus.
Essas disposições ocorrem enquanto o governo Donald Trump e os parlamentares da oposição republicana e democrata tentam chegar a acordo sobre um pacote de ajuda de até US$ 2 trilhões para apoiar a economia dos EUA, atingida pela pandemia do Covid-19.
O banco emissor, que já havia anunciado a compra de pelo menos US$ 500 bilhões em títulos do Tesouro e pelo menos US$ 200 bilhões em títulos hipotecários, agora parou de estabelecer limites para essas aquisições e fará compras de dívidas "nos montantes necessários para favorecer o bom funcionamento do mercado", uma medida semelhante à emissão de dinheiro.
Além disso, ele apontou que em breve apresentará um programa para emprestar diretamente a pequenas e médias empresas (PMEs), as mais afetadas pelo fechamento de muitos setores de atividade adotados para tentar conter a disseminação do vírus.
"Enquanto persistir a grande incerteza, fica claro que nossa economia enfrentará graves choques", disse o Fed em comunicado, comprometendo-se a usar todas as ferramentas disponíveis para conter os danos.
"Devem ser feitos esforços agressivos nos setores público e privado para limitar as perdas de emprego e renda, bem como promover uma rápida recuperação assim que os choques diminuírem", acrescentou o banco central dos EUA.
Com a última medida, o Fed reviveu os mecanismos usados pela última vez durante a crise financeira global de 2008 e expandiu outros anunciados nos últimos dias. Os três novos programas fornecerão US$ 300 bilhões adicionais em novos fundos.
- "Ameaça existencial" -
Economistas elogiaram o esforço do Fed, mas disseram que ainda é necessário um grande incentivo do Congresso. A Casa Branca e republicanos e democratas no Congresso não conseguiram chegar a um acordo no domingo para obter uma primeira votação em um pacote de ajuda gigantesco.
"A recessão não é evitável. A carnificina econômica associada à recessão pode ser mitigada para que a economia decole", disse Diane Swonk, economista-chefe da Grant Thornton.
Ian Shepherdson, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics, emitiu um aviso igualmente terrível: "A ameaça de curto prazo para a economia é existencial".
As medidas do Fed representam "um esforço abrangente para garantir que o setor de negócios possa continuar existindo mesmo quando a atividade econômica entrar em colapso temporário. O Fed agora é efetivamente o emprestador direto de último recurso à economia real, não apenas ao sistema financeiro", disse.
No comunicado, o Fed prometeu "continuar a usar uma ampla gama de ferramentas para apoiar o fluxo de crédito para famílias e empresas".
A iniciativa é equivalente a flexibilização quantitativa ilimitada, já que a taxa de juros de referência já havia sido reduzida a zero.
Um dos programas ajudará a financiar empréstimos estudantis, carros e dívidas de cartão de crédito, bem como empréstimos a pequenas empresas.
Além disso, o Fed disse que "espera anunciar em breve" o estabelecimento de um programa de empréstimos comerciais para apoiar as PME.
- Negociações no Congresso -
O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, disse que o governo está "comprometido em fornecer ajuda aos trabalhadores e empresas americanas, particularmente às pequenas e médias empresas e às indústrias críticas mais afetadas pelo coronavírus".
Em declarações à Fox Business, Mnuchin defendeu o pacote de ajuda patrocinado pelo governo diante das críticas dos opositores democratas, negando que ele inclua "um plano de resgate" para empresas como companhias aéreas.
Há "uma disposição especial que estamos negociando para as companhias aéreas", acrescentou, no entanto, enfatizando que o transporte aéreo é um setor estratégico para a segurança nacional do país.
Enquanto isso, o presidente Donald Trump parece ter perdido a paciência com a interrupção da atividade. "Não podemos permitir que a cura seja pior que o problema. No final do período de 15 dias, tomaremos uma decisão sobre onde queremos ir", tuitou, usando somente letras maiúsculas.
O período de 15 dias a que ele se refere começou na segunda-feira passada e inclui uma série de recomendações do governo federal sobre o distanciamento social de pessoas e outras medidas para impedir a propagação do vírus. Termina na terça-feira da semana que vem.