A perspectiva com o pico da pandemia do coronavírus nos próximos dias despertou esperança nesta segunda-feira (30) nos países da Europa mais afetados pela Covid-19, como Itália e Espanha, enquanto os Estados Unidos implementavam uma ampla mobilização.
Símbolo dos esforços realizados, um navio-hospital com mil leitos chegou a Nova York para aliviar os já congestionados hospitais da cidade, enquanto são instalados centros provisórios de atendimento médico em um centro de convenções e no Central Park.
O navio "USS Comfort" está equipado com 12 centros cirúrgicos e uma equipe de 1.200 médicos e enfermeiros.
A cidade de Nova York está no centro das preocupações nos Estados Unidos, com mais de 36 mil casos confirmados e 790 mortos, mas apesar disso, a bolsa de Nova York encontrou razões para o otimismo e o índice Dow Jones fechou em alta nesta segunda.
"Temos tempos desafiadores pela frente nos próximos 30 dias", admitiu o presidente americano, Donald Trump.
Com mais de 37 mil mortes no mundo, o balanço macabro não para de crescer, particularmente na Europa, onde a Itália superou os 11.500 mortos; a Espanha, os 7.340 (mais 812 nas últimas 24 horas) e a França, os 3.000 (mais 418).
Enquanto as medidas de confinamento se intensificam para interromper o avanço da pandemia - a Espanha proibiu a partir desta segunda qualquer atividade não essencial -, as economias sofrem.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) previu nesta segunda uma "profunda recessão" em 2020, dada a "surpreendente ferocidade" com que o vírus atingiu a Europa.
O comitê de especialistas que assessora o governo de Angela Merkel prevê uma queda de 2,8% a 5,4% do crescimento na Alemanha.
Os presidentes da Rússia e dos Estados Unidos, Donald Trump e Vladimir Putin, conversaram por telefone sobre o coronavírus e sobre o colapso dos preços do petróleo, afetado pela queda na atividade e pela guerra de preços travada entre Rússia e Arábia Saudita.
Ao longo do dia, Trump também anunciou o envio de provisões médicas à Itália no valor de 100 milhões de dólares.
"Temos produtos excedentes de que não precisamos, vamos enviar uns 100 milhões de dólares de artigos cirúrgicos, médicos e hospitalares à Itália", disse o presidente durante uma coletiva de imprensa nos jardins da Casa Branca.
Para evitar a propagação da doença, as autoridades mostram firmeza. Um famoso pastor evangélico foi detido por ter celebrado cultos repetidamente com centenas de fiéis, apesar das medidas de isolamento.
Ao mesmo tempo, o governador do mesmo estado se negou a permitir o desembarque de um navio de cruzeiro, o Zaandam, que está no mar do Caribe com quatro mortos e dezenas de doentes a bordo.
- De olho no topo da curva -
Enquanto em países como França, Bélgica, Reino Unido ou Holanda a pandemia se encontra em plena ascensão, na Itália e na Espanha, os países mais afetados pela epidemia até agora, uma luz fraca aparece no fim do túnel.
A Itália registrou um aumento de contágios de 4% na segunda-feira, o menor percentual desde o início da pandemia, embora tenha registrado 812 mortes nas últimas horas, 11.500 no total.
"Esperamos atingir o pico em sete ou dez dias e, logicamente, o contágio diminuirá", explicou o vice-ministro da Saúde, Pierpaolo Sileri.
"Na Lombardia (a região mais afetada), há uma diminuição de casos e, acima de tudo, a pressão nas emergências e a solicitação de ambulâncias diminuíram", disse o conselheiro de saúde da região, Giulio Gallera.
Na Espanha, a "tendência, com medidas de isolamento, está desacelerando", disse Maria José Sierra, do centro de emergências em saúde.
Enquanto isso, em Nova York, o epicentro da epidemia nos Estados Unidos, cidadãos e autoridades estão se preparando para o pior.
"Estamos a duas, três, quatro semanas (do pico do contágio). É necessário nos preparar para o pico, ter material, porque é aí que o sistema entrará em colapso", alertou o governador de Nova York, Andrew Cuomo, para a rede MSNBC.
Com mais de 150.000 americanos infectados nos mais de 750.000 casos oficialmente registrados no mundo, o presidente Donald Trump parou de minimizar a gravidade do coronavírus.
"Potencialmente 2,2 milhões de pessoas" poderiam morrer por causa do coronavírus "se não tivéssemos feito nada", reconheceu o presidente dos EUA no domingo.
Segundo seu assessor sobre a pandemia, Dr. Anthony Fauci, o novo coronavírus pode causar "entre 100.000 e 200.000" mortes na superpotência mundial, que já registrou 2.800.
- Difícil respeitar a quarentena -
Com mais de 3,38 bilhões de pessoas convocadas a ficar em casa, o que representa 43% da população mundial, o confinamento é difícil de ser realizado em muitos países, especialmente na África e na América Latina.
"Estamos dispostos a respeitar a quarentena, mas como a respeitamos se precisamos procurar água três e quatro vezes por dia? Não quero sair de casa, mas como fazemos?", questiona a venezuelana Eva, uma aposentada de 62 anos, que sai com uma máscara e luvas de borracha para procurar água em Caracas, em falta em muitos bairros.
As medidas de confinamento às vezes geram incompreensão na África subsaariana, onde grande parte da população vive com menos de dois dólares por dia e depende da economia alternativa para sobreviver.
No Zimbábue, um dos países mais pobres da África, onde a polícia patrulhava ativamente as ruas de Harare para fazer cumprir a ordem de confinamento, os moradores lamentam a suspensão brutal do transporte.
As grandes cidades de Moscou, na Rússia, Lagos e Abuja, na Nigéria se somaram ao confinamento nesta segunda-feira.
A situação econômica é preocupante para os países em desenvolvimento e os especialistas das Nações Unidas disseram nesta segunda-feira que são necessários injetar US$ 2,5 trilhões para ajudá-los a lidar com a pandemia.
Na América Latina, onde 348 mortes foram registradas e quase 15.000 infecções, vários países anunciaram a extensão das medidas de contenção, na tentativa de achatar a curva no início do surto.
A Argentina estendeu o isolamento social obrigatório até 12 de abril, e a Guatemala também estendeu o toque de recolher parcial até então, enquanto El Salvador o manterá até o dia 13. O Equador estenderá o "home office" até o domingo.
As boas notícias foram registradas na Colômbia, onde os guerrilheiros do ELN anunciaram um cessar-fogo de um mês devido à pandemia.
Nesta segunda-feira, 39 médicos e enfermeiros cubanos chegaram a Andorra para ajudar as autoridades desse pequeno principado entre Espanha e França, que se torna o segundo Estado europeu, depois da Itália, a receber profissionais de saúde de Cuba em meio a uma pandemia.