Jornal Estado de Minas

Alarmante perda de empregos nos EUA, uma situação que deve se agravar

O mercado de trabalho dos Estados Unidos perdeu empregos em um ritmo alarmante em março, em consequência da paralisação econômica para conter a disseminação do coronavírus, segundo dados oficiais divulgados nesta sexta-feira (3), que antecipam um drástico agravamento da situação.



O país perdeu 701.000 empregos em março e a taxa de desemprego subiu para 4,4%, informou o Departamento do Trabalho.

Ainda assim, o ministério reconheceu que suas estatísticas ainda não registravam toda a extensão do dano. Seus dados sobre pedidos de seguro-desemprego mostraram que 10 milhões de pessoas solicitaram o benefício nas últimas duas semanas de março.

Com mais de um milhão de casos de COVID-19 em todo o mundo, um quarto deles nos Estados Unidos, onde o número de mortos ultrapassa os 6.000, cidades se tornaram fantasmas e autoridades tentam encontrar maneiras de aliviar os estragos na economia e na mente das pessoas.

"A queda nas folhas de pagamento em março foi sem precedentes para o início de uma recessão e vai piorar mais de 20 vezes em abril", disse Diane Swonk, da Grant Thornton, uma das principais empresas de contabilidade do país.

"Somente nos primeiros dois meses desta crise, perderemos facilmente mais do dobro do número de empregos que perdemos durante a Grande Recessão", afirmou, em alusão ao desastre econômico global que se originou nos Estados Unidos em 2008.



O relatório mensal revela a pior perda de emprego desde março de 2009 e o maior salto em um único mês na taxa de desemprego em mais de 45 anos.

No entanto, o Departamento do Trabalho reconheceu que "ainda não pode quantificar com precisão os efeitos da pandemia no mercado de trabalho em março".

Os setores de lazer e hotelaria, entre os primeiros a sentir o impacto das restrições de viagens, perderam 459.000 empregos no mês passado, segundo o relatório.

Mas os danos foram generalizados e também houve perdas notáveis nos serviços de saúde, varejo e empresas.

- Hispânicos mais impactados -

A taxa total de desemprego aumentou de 3,5%, um mínimo em 50 anos, para o nível mais alto desde agosto de 2017.

E o golpe foi sentido em todos os grupos. O desemprego de homens e mulheres adultos aumentou para 4%, enquanto a taxa de desemprego para afro-americanos subiu para 6,7% em relação aos 5,8% anteriores.



O impacto sobre os hispânicos foi ainda pior, passando de 4,4% para 6,0% no mês anterior.

Os dados foram divulgados no mesmo dia em que o governo de Donald Trump iniciou um programa para incentivar as empresas a reter trabalhadores e recontratar trabalhadores dispensados.

O programa oferece às empresas de até 500 funcionários 349 bilhões de dólares em empréstimos. Os fundos não precisarão ser devolvidos para quem não demitir e recontratar os dispensados além de usar a maior parte da verba para manter os salários.

"Isso estará em operação na sexta-feira. O dinheiro será recebido no mesmo dia", prometeu o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, na conferência de imprensa diária da Casa Branca, na quinta-feira.

Mas ele reconheceu que pode haver alguns atrasos na obtenção dos fundos. Apesar do processo ter sido simplificado, alguns bancos notaram que não tinham informações completas sobre o funcionamento do programa.

- "Traumático" -

Economistas preveem que os números de abril serão desastrosos, com uma taxa de desemprego de dois dígitos e até 20 milhões de empregos cortados.



"Isso é terrível, mas infelizmente não é nada comparado ao que vem em abril", disse Ian Shepherdson, da consultoria Pantheon Macroeconomics, que prevê uma taxa de desemprego de 12% a 14%.

Os dados que compõem o relatório mensal do governo sobre empregos foram coletados durante a semana do dia 12 de março, antes da imposição de medidas mais restritivas em todo o país.

"É importante considerar que os períodos de referência dos dados de março foram anteriores a muitos fechamentos de empresas e escolas devido ao coronavírus na segunda metade do mês", afirmou o relatório.

Diante da perda de postos de trabalhos obtidos em uma década, "o mercado entrou em um período traumático", disse Gregory Daco, analista da Oxford Economics.