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Estado de Minas

Guayaquil e os erros no enfrentamento da COVID-19 no Equador

Capital equatoriana menosprezou pandemia do novo coronavírus e agora enfrenta colapso no sistema de saúde e nos cemitérios. Desigualdade agravou crise


postado em 12/04/2020 14:37 / atualizado em 12/04/2020 15:17

Capital equatoriana reagiu tarde à pandemia e amarga os impactos da doença(foto: Prefeitura de Guayaquil/Fotos Públicas)
Capital equatoriana reagiu tarde à pandemia e amarga os impactos da doença (foto: Prefeitura de Guayaquil/Fotos Públicas)

Guayaquil, mais do que qualquer outra cidade equatoriana, paga por seus erros ao lidar com a pandemia de coronavírus. A capital econômica do país de 17,5 milhões de habitantes assistiu a imagens dantescas nos últimos dias. Corpos foram vistos nas ruas embrulhados em sacos plásticos. O precário sistema de saúde entrou em colapso, com muitos profissionais infectados.


Longas filas de veículos com caixões de papelão se formaram nos portões dos cemitérios. E o pior ainda está por vir. As autoridades esperam até 3,5 mil mortos durante a pandemia. Segundo dados oficiais, a província de Guayas e sua capital, Guayaquil, concentram 73% dos quase 7,3 mil infectados, incluindo 315 mortos, desde 29 de fevereiro.



Com 2,7 milhões de habitantes, a portuária Guayaquil apareceu antes da emergência como um ponto vulnerável. O primeiro caso foi o de uma mulher que voltou da Espanha. Quase meio milhão de equatorianos vivem naquele país e na Itália. Muitos migraram devido à crise financeira do final dos anos 1990. O fluxo de viagens é intenso, principalmente em fevereiro e março, época de férias escolares.


Descaso custou caro

O Equador "reagiu tarde" às advertências sobre a disseminação do vírus pelo mundo, disse Daniel Simancas, epidemiologista da Universidade Tecnológica Equinocial (UTE). Houve também atraso na compra de testes e a vigilância epidemiológica foi deficiente. Erros que tinham como "terreno fértil" as condições sociais de Guayaquil.


Embora Guayas seja o estado que mais contribui para a produção do país (27%), sua capital registrou 11,2% de pobreza em dezembro, segundo dados oficiais. O desemprego e o subemprego estão em torno de 20% na cidade, o que fez muitas famílias temerem a fome com o distanciamento social.


Desigualdade agravou crise

"As pessoas querem sair para produzir e isso se deve à mesma estrutura produtiva de emprego informal que existe em Guayaquil", disse o economista Alberto Acosta Burneo, da consultoria Spurrier. O sociólogo de Guayaquil, Carlos Tutivén, da Universidade Casa Grande, também destaca o "modelo de desenvolvimento econômico" de Guayaquil.


Grave desigualdade social no país tem sido entrave para manter medidas de restrição no Equador(foto: Prefeitura de Guayaquil/Fotos Públicas)
Grave desigualdade social no país tem sido entrave para manter medidas de restrição no Equador (foto: Prefeitura de Guayaquil/Fotos Públicas)


No porto, consolidou-se a maior resistência à esquerda que governou o país por 2007 a 2017. Mas nenhuma fórmula "foi poderosa o suficiente para resolver a desigualdade" em uma cidade onde as mansões da Ilha Mocolí convivem com favelas sem serviços básicos.


Desobediência nas ruas

Quase 3,3 mil pessoas violaram o toque de recolher de 15 horas por dia imposto pelo governo em Guayas. Mesmo com os militares nas ruas, é comum ver vendedores ambulantes, a maioria sem máscaras e longas filas do lado de fora das lojas, sem o distanciamento recomendado.


Caixões de papelão têm sido usados para enterrar os mortos por coronavírus no Equador(foto: Alcadia/Fotos Públicas )
Caixões de papelão têm sido usados para enterrar os mortos por coronavírus no Equador (foto: Alcadia/Fotos Públicas )


O sociólogo Tutivén observa que "trancar-se em uma casa com quatro metros quadrados, com quatro, cinco, seis pessoas, pode ser sufocante", apontou. Simancas ressaltou que "muitas famílias com muito dinheiro também desrespeitaram as medidas de quarentena".


Mea culpa do governo

Sob fortes críticas, os governos federal e locais reconheceram as graves falhas no tratamento da crise. A prefeita Cynthia Viteri, infectada pelo vírus, disse que "todos" são culpados. "Vemos nossos doentes perderem a vida todos os dias ... grávidas não têm hospital para dar à luz e 100 pessoas morreram por falta de diálise ". "Não só a Saúde do país entrou em colapso, mas também as funerárias e necrotérios".


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