Há um mês, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson abordava a crise do coronavírus com descontração e continuou “cumprimentando todos”. O Reino Unido é agora um dos países mais atingidos na Europa pela pandemia e, depois de uma semana no hospital, o premiê recebeu alta ontem e agradeceu às equipes de saúde por terem salvo a sua vida.
Em 12 de março, Johnson chamou a pandemia de “a pior crise de saúde pública em uma geração” e alertou que muitos britânicos perderiam entes queridos. Mas a estratégia de seu governo continuava a divergir das medidas radicais adotadas por outros países da Europa, onde o confinamento já estava em vigor e as escolas fechadas. Aos repórteres, Johnson repetia sua recomendação de lavar bem as mãos “durante o tempo necessário para cantar parabéns pra você duas vezes”. Para aqueles com mais de 70 anos, considerados mais vulneráveis ao coronavírus, ele simplesmente desaconselhava ir a um cruzeiro. Essa estratégia, destinada a promover uma “imunidade coletiva”, gerou polêmica.
MUDANÇA
Diante das críticas crescentes, e especialmente após um alarmante estudo científico que anunciava 250 mil mortes se medidas de distanciamento social não fossem tomadas, o governo Johnson começou a mudar de rumo. Em 16 de março, ele pediu à população que evitasse o contato social “não essencial” e as viagens “desnecessárias”, promovendo o teletrabalho. Mas a ordem para fechar escolas, bares, restaurantes, cinemas e academias só veio dias depois, em 20 de março. Em 23 de março, Johnson finalmente se dirigiu ao país pela televisão e ordenou solenemente um confinamento de três semanas.
Quatro dias depois, Johnson pegou todos de surpresa quando anunciou que havia testado positivo para a COVID-19. Ele alegou que seus sintomas eram “leves” e, apesar de se isolar em seu apartamento em Downing Street, continuou trabalhando, usando videoconferências para presidir as reuniões ministeriais. No entanto, parecia cansado e enfraquecido nas mensagens de vídeo que postava no Twitter para pedir aos britânicos que ficassem em casa. Em 31 de março, tuitou uma foto da primeira reunião do conselho de ministros realizada inteiramente on-line. Dois dias depois, apareceu na porta de sua residência oficial para aplaudir os profissionais da saúde do país.
AGRAVAMENTO
Após os sete dias recomendados pelas autoridades britânicas, o premiê precisou prolongar sua quarentena porque a febre não diminuía. Em 4 de abril, sua companheira grávida, Carrie Symonds, disse que estava se recuperando depois de ter sintomas do coronavírus. No entanto, após um excepcional discurso televisionado da rainha pedindo aos britânicos para ter resiliência, vem a notícia de que o primeiro-ministro está hospitalizado “como medida de precaução”, devido a sintomas persistentes, particularmente a febre.
Vinte e quatro horas depois, ele foi transferido para terapia intensiva no Hospital St Thomas, onde recebeu oxigênio, mas não precisou de respirador. Depois de deixar os cuidados intensivos na quinta-feira, permaneceu hospitalizado até ontem, lendo Tintin, fazendo sudokus e assistindo filmes, segundo a imprensa. A partir de agora, ele se recuperará na residência oficial de Chequers, no Noroeste de Londres. Mas antes ele quis agradecer aos profissionais de saúde que “salvaram sua vida” e, em particular, às enfermeiras presentes na cabeceira da cama por 48 horas.
Governo espanhol pede cautela na luta contra o novo coronavírus
A Espanha está “longe da vitória” contra o coronavírus, alertou ontem o presidente Pedro Sánchez, diante de um aumento no número de mortes diárias pela pandemia. “Estamos todos ansiosos para recuperar as relações, sair às ruas, mas o desejo é ainda maior de vencer esta guerra, de evitar uma recaída”, disse o líder socialista em entrevista coletiva.
Apesar de já ter passado pelo pico da epidemia, segundo as autoridades de saúde, Sánchez afirmou que “ainda estamos longe de recuperar uma nova normalidade em nossas vidas”. Sánchez já anunciou que o confinamento a que os 46,6 milhões de espanhóis foram submetidos desde 14 de março pode ser estendido para além de 26 de abril. “Após um mês de muita luta de toda a sociedade espanhola contra o vírus, a taxa de (crescimento de) infecções passou de 40% ao dia para cerca de 3% nos últimos dias”, parabenizou.
Mas a Espanha reportou, ontem, um aumento no número diário de mortes por coronavírus, com 619 óbitos em 24 horas, após três dias consecutivos de redução. Terceiro país do mundo com mais mortes por COVID-19, atrás dos Estados Unidos (21.489) e da Itália (19.899), a Espanha registra um total de 16.972 vítimas fatais desde o início da pandemia.
No sábado, o saldo diário caiu para 510 mortes, o número mais baixo desde 23 de março. O número de novos casos notificados em 24 horas, cerca de 4.100 ontem, marca um declínio em comparação ao dia anterior. No total, o número de casos confirmados na Espanha chega a 166.019.
O número de pessoas que se recuperaram da doença também aumentou, para 62.391, o que representa pouco menos de 40% do total de casos relatados. As autoridades insistem que não é hora de “baixar a guarda” e, hoje, vão distribuir 10 milhões de máscaras no transporte público, coincidindo com a retomada de atividades não essenciais, como construção e indústria, após duas semanas de paralisação.
“Nós não estamos entrando ainda na segunda fase da epidemia, que os especialistas chamam de fase de desaceleração, o alarme continua ligado, o confinamento geral se mantém”, destacou Sánchez. “Esse retorno a certas atividades não é sinônimo de relaxamento e é por isso que a polícia continuará realizando controles de mobilidade, não vamos baixar a guarda”, anunciou María Pilar, comissária da Polícia Nacional. As forças de segurança relataram um certo relaxamento nos últimos dias, coincidindo com a semana da Páscoa.