A pandemia da COVID-19 pode desencadear outra "década perdida" na América Latina entre 2015 e 2025, alertou nesta quinta-feira (16) Alejandro Werner, diretor para as Américas do Fundo Monetário Internacional (FMI).
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Reino Unido prorroga confinamento por ao menos três semanasDesemprego aumenta nos EUA enquanto Trump tenta retomar a economiaBolsonaro demite Mandetta em meio à crise do coronavírusA recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) na América Latina e no Caribe pode ser de 3,4% em 2021, com um crescimento médio projetado de 2,7% entre 2022 e 2025.
"No entanto, mesmo neste cenário de rápida recuperação, a região enfrenta o espectro de outra 'década perdida' durante 2015-25", disse.
Isso significa que em 2025 o Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina não terá crescido aos níveis de 2015.
Na América Latina, a década de 1980 é conhecida como "década perdida" devido à crise da dívida. Após o período de liberalização dos anos 90, o boom nos preços das matérias-prima nutriu o crescimento regional entre 2000 e 2013.
Com o fim do "boom das commodities", os especialistas já previam problemas para região. A nova crise do coronavírus, com seus "choques extremos" na oferta e na demanda, impõe desafios especialmente no setor de saúde e o aumento nos custos de financiamento, o que exigirá medidas "sem precedentes" para resolvê-los, alertou Werner.
Em seu blog, ele listou as políticas implementadas pelos governos, como restrições à atividade para impedir a propagação do vírus e medidas fiscais para apoiar famílias e empresas, destacando desafios importantes em sua implementação.
Grandes desafios
Dado o alto nível de informalidade no mercado de trabalho, estimado em 60% pelo FMI, "os países devem usar todos os métodos possíveis (por exemplo, contas de serviços públicos) para alcançar empresas menores e trabalhadores e empresas informais "com mecanismos de ajuda", afirmou.
Além disso, pediu aos governos que "criem um espaço fiscal no orçamento, reduzindo gastos não prioritários e aumentando a eficiência dos gastos" para combater os "aumentos significativos" de déficits e dívida pública que enfrentarão a pandemia.
Werner também pediu regras fiscais sobre quanto os governos podem gastar.
"Os países devem garantir que as políticas adotadas em resposta à crise não sejam percebidas como permanentes e que se enraízem e gerem distorções, principalmente no que diz respeito à assistência direcionada a determinados setores", afirmou.
Em seu blog, publicado quando o FMI e o Banco Mundial realizam suas reuniões por videoconferência para evitar contágios, Werner sugeriu um aumento nos impostos sobre produtos petrolíferos para gerar fundos.
"Para fornecer a receita adicional necessária para ajudar a financiar todas essas iniciativas, um aumento nos impostos sobre produtos petrolíferos no momento em que os preços mundiais são mais baixos pode ser apropriado desde que os preços domésticos não subam para usuários os finais", observou.
Segundo ele, dos quase 100 países que solicitaram financiamento de emergência do FMI para responder aos desafios econômicos e de saúde pública colocados pela pandemia, 16 são da América Latina e do Caribe.
Além disso, ele observou que outros países da região solicitaram novos programas ou extensões dos existentes, como Honduras e Barbados.
"O FMI está totalmente comprometido em ajudar nossos países-membros", garantiu.