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Estado de Minas

Bolsonaro demite Mandetta em plena crise do coronavírus


postado em 16/04/2020 19:49

O presidente Jair Bolsonaro demitiu nesta quinta-feira (16) o popular ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, após semanas de confronto entre os dois por divergências sobre a política de combate à pandemia do novo coronavírus.

"Foi um divórcio consensual", disse Bolsonaro em coletiva de imprensa em Brasília, pouco depois de o próprio Mandetta anunciar oficialmente que havia sido demitido.

Seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mandetta era um fiel defensor das medidas de isolamento social criticadas pelo presidente devido ao impacto das mesmas na economia.

Para substituí-lo, Bolsonaro escolheu o oncologista Nelson Teich, com quem acordou uma reabertura gradativa da economia.

"O que eu conversei com o doutor Nelson é que gradativamente temos que abrir o emprego no Brasil. Essa grande massa de humildes não tem como ficar presos dentro de casa e o que é pior - quando voltar, ficar sem emprego", disse o presidente.

No entanto, o ministro recém-nomeado, que tem o apoio da Associação Médica do Brasil (AMB), assegurou que "não vai haver qualquer definição brusca, radical" sobre o distanciamento social definido por governadores e prefeitos.

Opor saúde e economia "é muito ruim", acrescentou Teich, que em um artigo recente defendeu o isolamento como medida para conter a propagação do coronavírus.

As relações entre Mandetta e Bolsonaro vinham se desgastando desde o início da crise sanitária, que até esta quinta-feira havia registrado 1.924 mortos e 30.425 contágios.

As autoridades preveem para maio o pico da pandemia no Brasil.

Contrário às medidas de isolamento horizontal, Bolsonaro afirma que se fomentou um clima de "terror" e "histeria" em torno da pandemia.

Ele, inclusive, ignorou as recomendações de suas próprias autoridades sanitárias para evitar aglomerações, realizando passeios espontâneos em feiras, padarias e outros locais públicos, e mantendo contato físico com seus apoiadores.

"O remédio para curar o paciente não pode ter um efeito colateral mais danoso do que a própria doença", insistiu Bolsonaro nesta quinta, afirmando que seu governo não pode sustentar por muito tempo as medidas econômicas de emergência adotadas para proteger os trabalhadores informais, empresas e desempregados.

Sua postura desatou uma crise entre o Executivo federal e governadores de grandes estados, como São Paulo e Rio de Janeiro - os mais afetados no país pela pandemia -, e que determinaram em março medidas para restringir a circulação de pessoas, menos restritivas do que as adotadas na maioria dos países europeus.

- Ministro com "projeção política" -

Desde o início da crise, Mandetta esteve à frente das coletivas de imprensa quase diárias e se tornou uma personalidade popular para muitos brasileiros, inconformados com a postura do presidente.

Mas seu destino mudou no fim de semana passado: ele perdeu o apoio dos influentes militares, que até então tinham conseguido salvar sua pele, incomodados com uma declaração sua no programa "Fantástico", da TV Globo, ao qual disse que faltava no país uma "fala unificada" no combate à pandemia e que o brasileiro "não sabe se ouve o presidente ou o ministro".

Enquanto o presidente anunciava ao vivo pela TV a demissão de Mandetta, muitas pessoas nos bairros do Rio e de São Paulo protestaram com panelaços e gritos de "Fora, Bolsonaro!".

Mandetta, que anunciou sua demissão pelo Twitter, agradeceu a "oportunidade" de "planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar".

Em uma coletiva pouco depois, voltou a defender a ciência como a "luz" capaz de guiar o país por esta crise.

"Não está claro como o novo ministro vai agir. Mas Bolsonaro não o teria escolhido se não houvesse um mínimo de alinhamento entre eles", avaliou o analista Vinícius Oliveira, cientista político e pesquisador associado da Universidade de São Paulo (USP).

Se não vai haver um ataque ao isolamento social. Da parte do novo ministro. Não deve haver sua defesa tampouco. Isso vai levar mais pessoas a abandonar a quarentena

"Bolsonaro demitiu Mandetta porque ele ganhou projeção política. A tensão vai só aumentar com governadores e o Congresso, além do Supremo", acrescentou o analista, que prevê a possibilidade de um agravamento das tensões caso o governador de São Paulo, João Doria, decida endurecer as medidas de quarentena no estado semana que vem.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu esta semana que estados e municípios têm autonomia para decidir quais medidas devem ser adotadas para enfrentar a pandemia.


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