Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

OMS alerta para longa crise do coronavírus; mortos passam de 180 mil

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, nesta quarta-feira (22), que a crise do novo coronavírus não terminará logo, com muitos países ainda nos estágios iniciais do enfrentamento da pandemia, que deixou mais de 180 mil mortos em todo o mundo. Em Minas Gerais, por exemplo, o pico da COVID-19, conforme o secretário de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, deve acontecer somente em junho. 



À emergência sanitária se soma uma dura crise econômica, com negócios lutando para sobreviver, milhões de desempregados e outros milhões confrontados com a fome.


O presidente estadunidense, Donald Trump, – de olho na disseminação do desemprego e em seus planos de reeleição – assinou nesta quarta um decreto para suspender a emissão de 'Green Cards', vistos de residência no país, por 60 dias.


Enquanto alguns estados do país se mobilizam para reabrir alguns setores, especialistas sanitários da maior economia do planeta alertaram que os Estados Unidos podem enfrentar uma segunda onda do coronavírus, ainda mais mortal, no inverno.



Países se lançam no combate à pandemia – que matou mais de 180 mil pessoas e infectou quase 2,6 milhões em todo o mundo –, enquanto buscam desesperadamente meios para limitar suas devastadoras consequências para a economia.


Enquanto alguns agiam para suspender as medidas restritivas que paralisaram a vida cotidiana ao redor do globo, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, fez uma advertência.


"Não se enganem: temos um longo caminho pela frente. O vírus vai estar conosco por um longo tempo", disse Tedros, durante coletiva de imprensa digital.


"A maioria dos países ainda está nos primeiros estágios de sua epidemia. E alguns que foram afetados no começo da pandemia agora começam a ver uma ressurgência de casos", acrescentou.



A Europa, duramente afetada pela pandemia, viu seu número de mortos bater um novo recorde sombrio, com 110 mil óbitos, enquanto a Itália, o país mais afetado depois dos Estados Unidos, atingiu os 25 mil.


A Finlândia anunciou que vai manter a proibição a reuniões com mais de 500 pessoas até julho.


Na Espanha, que registrou um sutil aumento pelo segundo dia seguido no número de mortes por COVID-19, o governo informou que não espera suspender suas estritas medidas de restrição até meados de maio.


"Nós precisamos ser incrivelmente cuidadosos nesta fase", advertiu o primeiro-ministro, Pedro Sánchez.


"Passo significativo"


Mas a Alemanha, que começou cuidadosamente a abrir seu comércio, lançou uma luz de esperança, ao anunciar que os testes humanos para uma vacina vão começar semana que vem.



O teste, apenas o quinto autorizado em todo o mundo, é um "passo significativo" para a produção de uma vacina "disponível o mais rapidamente possível", informou a entidade regulatória alemã.


Enquanto o lançamento de uma vacina viável pode levar vários meses, mais da metade da humanidade permanece seguindo alguma forma de isolamento.


Singapura estendeu o confinamento por um mês até 1º de junho, enquanto a cidade-estado asiática –que conseguiu controlar o primeiro surto – sofre com uma segunda onda de infecções.


O diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) também alertou os americanos que se preparem para uma segunda e mais forte onda de infecções.


"Existe a possibilidade de que o ataque do vírus à nossa nação no próximo inverno seja até mesmo mais difícil do que este pelo qual passamos", disse Robert Redfield ao jornal The Washington Post.



Na África do Sul, mais de 73.000 soldados extras foram mobilizados para reforçar as medidas restritivas, devido à dificuldade das autoridades em manter as pessoas confinadas, especialmente nas periferias superpopulosas.


Com empresas fechadas e milhões de empregos perdidos, o Programa Mundial de Alimentos (PAM), das Nações Unidas, informou que a crise atingirá mais duramente os menos favorecidos.


"Eu quero reforçar que não estamos apenas enfrentando uma pandemia de saúde global, mas também uma catástrofe humanitária global", disse na terça-feira o diretor-executivo do PAM, David Beasley, ao Conselho de Segurança da ONU.


"Milhões de civis vivendo em países afetados por conflitos serão empurrados para o abismo da fome", acrescentou.


Segundo o PAM, estima-se que o número de pessoas sofrendo de fome aguda deve quase dobrar, chegando a 265 milhões este ano.



De pé em uma fila no bairro histórico de Bangcoc, capital da Tailândia, à espera de doações de arroz, macarrão e leite, Chare Kunwong, massagista de 46 anos, disse: "Se eu esperar pela ajuda do governo, vou morrer primeiro".


"Errado e injusto"


Nos Estados Unidos, Trump disse nesta quarta-feira que seu decreto para suspender a emissão de vistos de residência "assegurará que americanos desempregados com qualquer formação sejam os primeiros na fila por empregos quando nossa economia reabrir".


Os Estados Unidos somam 46.583 mortes e quase 840 mil infecções por COVID-19, e suas infraestruturas de atenção à saúde, especialmente em áreas quentes como Nova York, têm lutado para fazer frente à pandemia.



Manifestantes voltaram às ruas nesta quarta-feira – desta vez em Richmond, capital do estado da Virgínia – para pedir a suspensão da quarentena para que as pessoas possam voltar ao trabalho.


Mas a manifestação ocorreu em um momento em que especialistas revelaram que a primeira morte relacionada ao vírus aconteceu em fevereiro, semanas antes do registrado inicialmente.


"Agora eles morrem sozinhos"

 

Entre os mais duramente afetados pela ruína econômica durante a crise estão milhões de trabalhadores migrantes que enviam remessas para suas famílias em seus países de origem.


Espera-se que as remessas caiam 20% em todo o mundo este ano, o maior declínio da história recente, informou o Banco Mundial em um relatório sobre transferências de dinheiro que são o sustento de milhões de famílias.


As quarentenas motivadas pela pandemia significa que os corpos de alguns destes migrantes podem não ser enviados para casa, e que estão sendo sepultados ou cremados no país onde morreram, frequentemente sem qualquer ente querido presente.


"Ninguém vem mais, ninguém toca, ninguém se despede", disse Ishwar Kumar, que gerencia um crematório hindu em Dubai.


Antes da pandemia, as pessoas vinham "chorar e trazer flores. Agora, eles morrem sozinhos".