A Universidade de Oxford deve lançar nesta quinta-feira (23) testes clínicos em humanos para uma vacina contra o novo coronavírus, expressando a ambiciosa esperança de poder disponibilizá-la ao público em alguns meses.
Entre as centenas de pesquisas realizadas no mundo para encontrar uma vacina - a única maneira possível, segundo a ONU, de retornar à "normalidade" -, sete estão na fase de testes clínicos em seres humanos, segundo a London School of Hygiene and Tropical Medicine.
Esses testes já começaram na China e nos Estados Unidos e devem começar ainda este mês na Alemanha, onde a autoridade federal responsável deu sua autorização na quarta-feira.
Os trabalhos da Universidade de Oxford são apoiados pelo governo britânico, cujo ministro da Saúde, Matt Hancock, anunciou na terça-feira o início dos testes em humanos nesta quinta.
Na Câmara dos Comuns, em parte reunida virtualmente, ele elogiou um "desenvolvimento promissor", enfatizando que normalmente levariam "anos" antes de chegar a tal estágio de pesquisa.
Em sua primeira fase, o estudo conduzido pelo Jenner Institute da Universidade de Oxford, destinado a avaliar a segurança e a eficácia da vacina, envolverá até 1.112 voluntários. Destes, 551 receberão uma dose da potencial vacina contra a COVID-19, e a outra metade uma vacina controle. Dez participantes receberão duas doses da vacina experimental, com espaçamento de quatro semanas.
Estimando em 80% as chances de sucesso, a equipe da professora Sarah Gilbert planeja, paralelamente à pesquisa, produzir um milhão de doses disponíveis até setembro, a fim de torná-la amplamente disponível no outono (boreal), no caso de sucesso.
Mas as equipes que conduzem a pesquisa ressaltam em seu site que esse calendário é "altamente ambicioso" e pode mudar.
O diretor de saúde do Reino Unido, Chris Whitty, reconheceu na quarta-feira que a probabilidade de obter uma vacina ou tratamento eficaz "este ano é incrivelmente baixa".
Enquanto isso, alertou: "acho que temos que ser realistas sobre isso - teremos que confiar em outras medidas sociais que, obviamente, são muito perturbadoras".
"Aposta" arriscada financeiramente
Segundo Nicola Stonehouse, professora de virologia molecular da Universidade de Leeds, a estratégia escolhida de não esperar todas as etapas antes de iniciar a produção é uma "aposta" do ponto de vista financeiro.
Mas é uma aposta necessária "na situação atual", explica ela à AFP.
A vacina que os pesquisadores de Oxford estão desenvolvendo é baseada em um adenovírus modificado que afeta os chimpanzés.
Permite "gerar uma forte resposta imune com uma dose única e não é um vírus replicante", portanto "não pode causar infecção contínua no indivíduo vacinado". Isso torna "mais seguro para crianças, idosos" e pacientes com doenças crônicas, como diabetes.
Alvo de críticas pela administração da crise, o governo britânico criou no final da semana passada uma "força-tarefa" para coordenar os esforços de pesquisa e poder produzir uma vacina em massa assim que possível.
Ele também apoia as pesquisas do Imperial College de Londres, que espera iniciar os ensaios clínicos em junho e que se concentra em uma vacina com um princípio diferente.
Encontrar uma vacina é a única maneira possível de voltar à "normalidade" no mundo, alertou na semana passada o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, pedindo que os projetos em desenvolvimento sejam acelerados.
Na segunda-feira, a ONU adotou uma resolução pedindo acesso "equitativo, eficaz e rápido" a uma possível vacina.