Um suposto membro do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), acusado de ter deixado morrer de sede uma menina yazidi reduzida à escrava, compareceu nesta sexta-feira (24) perante a Justiça alemã por assassinato e genocídio contra essa minoria do norte do Iraque.
Taha al-Jumailly, de 37 anos e originário do Iraque, também é acusado de crimes contra a humanidade, crimes de guerra e tráfico de seres humanos.
Ele compareceu perante o Tribunal Superior Regional de Frankfurt vestindo uma camisa branca e escondendo o rosto com uma pasta.
"Ele pretendia destruir inteira, ou parcialmente, o grupo religioso dos yazidis", disse a promotora na leitura da acusação, durante a qual Jumailly não falou, mas esboçou vários sorrisos.
A audiência, pelo mesmo assassinato, da sua esposa, a alemã Jennifer Wenisch, foi considerada há um ano como o primeiro julgamento no mundo relacionado aos abusos cometidos pela organização jihadista contra a comunidade yazidi, uma minoria de língua curda do norte do Iraque, perseguida e oprimida pelo EI desde 2014.
A mãe da menina assassinada, apresentada como Nora pela imprensa, testemunhou em várias ocasiões em Munique sobre as provações que ela alega que sua filha Rania sofreu.
Segundo a acusação, Jumailly ingressou no EI em março de 2013 e exerceu várias funções até o ano passado em Raca, a "capital" do grupo EI na Síria, bem como no Iraque e na Turquia.
- "Escravas" -
A Justiça alemã o acusa de ter "comprado como escravas", no final de maio, ou início de junho de 2015, uma mulher da minoria yazidi e sua filha de cinco anos. Levadas para Fallujah, foram maltratadas e privadas de comida.
No verão de 2015, a menina foi "punida" pelo acusado por ter urinado em um colchão. Foi amarrada a uma janela do lado de fora da casa, onde estava trancada com a mãe.
Com temperaturas em torno de 50ºC, a menina morreu de sede.
O casal também obrigou a mãe a andar descalça do lado de fora, sofrendo queimaduras graves.
As duas vítimas foram sequestradas no verão de 2014, depois que o EI invadiu a região iraquiana de Sinjar. Foram então "vendidas" em várias ocasiões nos "mercados de escravos", de acordo com a Promotoria.
Detido na Grécia em 16 de maio de 2019, o acusado foi entregue à Alemanha em 9 de outubro e provisoriamente detido.
O julgamento deve durar pelo menos até o final de agosto.
No julgamento de Jennifer Wenisch, a mãe da menina é representada pela advogada libanesa-britânica Amal Clooney e pela yazidi Nadia Murad, que foi escrava sexual do EI e coagraciada com o Prêmio Nobel da Paz em 2018.
Ambas lideram uma campanha internacional para que os crimes cometidos contra os yazidis sejam reconhecidos como genocídio.
No entanto, provar a existência de um genocídio perante a Justiça é difícil, pois a vontade de aniquilar um grupo inteiro como os yazidis deve ser comprovada, de acordo com especialistas.
A pequena minoria étnico-religiosa é considerada a mais perseguida pelos jihadistas, que reduziram suas mulheres a escravas sexuais, recrutaram crianças-soldado à força e mataram centenas de homens.
Em agosto de 2014, o EI realizou um potencial genocídio, segundo a ONU. De acordo com suas autoridades, mais de 1.280 yazidis foram mortos, e mais de 6.400, sequestrados.