Os espanhóis saíram para passear, ou praticar esportes, neste sábado (2), após 48 dias trancados em suas casas, enquanto o desconfinamento da população em outras partes da Europa e dos Estados Unidos começou com cautela, à medida que a pandemia do novo coronavírus começa a perder força.
Em Madri, perto do grande parque do Retiro, que ainda está fechado, muitos habitantes foram dar uma volta, às vezes em grupos, segundo a AFP.
"Depois de tantas semanas confinado, estava louco para sair e correr e ver as pessoas. Ontem eu parecia uma criança no Dia de Reis", disse Marcos Abeytua, um consultor financeiro de 42 anos que mora no bairro de Chueca, no centro de Madri.
A Espanha planejou um confinamento progressivo que vai até fim de junho. Além disso, o presidente do governo, Pedro Sánchez, anunciou a obrigatoriedade do uso de máscara de proteção nos transportes públicos, a partir de segunda-feira.
"A partir de segunda, dia 4, quem for usar transporte público será obrigado a usar máscara", afirmou Sánchez, acrescentando que o governo distribuirá seis milhões de unidades no país na própria segunda-feira e que dará outros sete milhões para prefeituras e províncias para que sejam distribuídas.
Em outros países europeus, como Itália, França, ou Alemanha, os governos também vão relaxando, gradualmente, as medidas de confinamento - uma decisão que continua subordinada à evolução do número de mortos e de casos de contágio e que exige medidas de proteção e distanciamento social dos cidadãos. O objetivo é evitar uma segunda onda de infecções.
Nos Estados Unidos, o país mais afetado pela pandemia no mundo, os estados também estão avançando na suspensão das medidas de confinamento.
E, em meio a isso, a Agência Americana de Medicamentos (FDA, na sigla em inglês) aprovou com urgência um antiviral experimental, o remdesivir. Segundo a FDA, o remédio contribui para a recuperação mais rápida dos pacientes com COVID-19.
- "Uma pequena caminhada" -
"Vou sair pela primeira vez para uma pequena caminhada", disse à AFP Amalia García Manso, de 87 anos, usando máscara e luvas, enquanto descia lentamente a Calle Mayor, no centro de Madri, apoiada em sua bengala e no braço da filha.
Até então, os espanhóis podiam sair de casa apenas para ir trabalhar - caso o trabalho remoto fosse impossível -, comprar comida, ir à farmácia, ao médico, ou fazer pequenos passeios com os cães.
A partir de agora, os espanhóis devem respeitar faixas de horários, para evitar multidões e manter distantes crianças e idosos, que não poderão sair nos mesmos intervalos. A tarde é reservada para crianças menores de 14 anos, que podem sair acompanhadas por um adulto.
A suspensão das restrições está bem avançada na Alemanha, na Áustria e em países escandinavos, que continuam impondo, porém, "medidas de barreira" e distanciamento social. Enquanto isso, França e Itália se preparam para iniciar este processo em alguns dias.
O Reino Unido, onde o pico da pandemia foi atingido, de acordo com o primeiro-ministro Boris Johnson, prometeu um plano de desecalada para a próxima semana. O país é o segundo mais afetado na Europa, em número de mortes, depois da Itália.
No total, a nova pandemia de coronavírus causou mais de 238.000 mortes no mundo todo e 3,3 milhões de casos de contágio desde seu surgimento na China em dezembro passado, conforme balanço da AFP feito com base em fontes oficiais.
O país mais atingido no número de mortes é os Estados Unidos, com 65.068, à frente da Itália (28.236 mortos), Reino Unido (27.510), Espanha (25.100) e França (24.594).
Com 1.222 óbitos, a Rússia tem, hoje, o maior número de novos casos diários. Em torno de 2% dos residentes de Moscou - mais de 250.000 pessoas - sofrem da doença, disse o prefeito da capital russa, Sergey Sobianin, neste sábado, citando os resultados dos testes de detecção.
- "E daí?" -
Na América Latina e no Caribe, 12.197 pessoas morreram, e 231.039 casos foram registrados.
No Brasil, cujo presidente Jair Bolsonaro defende a recuperação da atividade econômica a todo custo, o pior ainda está por vir.
Segundo estimativas do grupo de pesquisadores COVID-19 no Brasil, o país teve mais de 1,3 milhão de casos de coronavírus na quinta-feira.
Isso é entre 15 e 20 vezes mais do que os 91.500 casos confirmados até agora, neste país de 210 milhões de habitantes, onde quase não existem testes e onde vivem diferentes populações vulneráveis, como povos indígenas, ou moradores de favelas grandes e superpovoadas.
O Brasil também possui o maior índice de contágio do mundo (2,8), de acordo com a Imperial College London. Dentro e fora do país, a controvérsia também continua, após a resposta dada por Bolsonaro, na terça-feira, a uma pergunta sobre o aumento de mortes no país - então em 5.000.
"E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?", afirmou o presidente.
Atualmente, o número de mortos no país passa de 6.300.
- "Abram a Califórnia!" -
Nos Estados Unidos, que continuam com uma média de cerca de 2.000 óbitos por dia (1.883 na sexta-feira), foi o presidente Donald Trump que anunciou o uso da droga remdesivir antiviral para pacientes graves nos hospitais americanos.
O remdesivir é um antiviral experimental de amplo espectro produzido pela empresa farmacêutica americana Gilead Sciences. Inicialmente, foi desenvolvido para tratar o Ebola, uma febre hemorrágica viral.
Desde meados de março, em meio à pandemia, os Estados Unidos registraram mais de 30 milhões de pedidos de seguro-desemprego - um recorde. Para revitalizar a economia, mais de 35 dos 50 estados do país começaram a suspender - ou estão prestes a fazer isso - medidas de desconfinamento.
O estado do Texas, por exemplo, reabriu lojas, restaurantes e bibliotecas na sexta-feira, desde que operem com 25% da capacidade.
Sentado em um restaurante em Houston, onde os garçons usam máscaras e luvas, Jack Sweed está "feliz por poder apoiar as empresas locais".
Para exigir a suspensão do confinamento há seis semanas em vigor em seu estado, milhares de pessoas se manifestaram na Califórnia na sexta-feira.
"Abram a Califórnia!", gritaram perto das praias fechadas de Huntington Beach.
"Todos os trabalhos são essenciais", ou "A liberdade é essencial", diziam os cartazes. Também houve manifestações em Los Angeles, Nova York e Chicago.
Em Nova York, milhares de inquilinos, que temem perder suas casas após ficarem desempregados e travam uma "guerra dos aluguéis", foram às ruas.
Na China, onde quase não há mais infecções locais, começaram, ontem, as primeiras férias desde o surgimento da pandemia.
Em Pequim, foi reaberta a Cidade Proibida, embora de uma maneira mais limitada do que o habitual.