Jornal Estado de Minas

Protestos na cidade boliviana de Cochabamba para flexibilizar quarentena

Dezenas de moradores da cidade de Cochabamba, na região central da Bolívia, desafiaram nesta quinta-feira (14) a ordem de confinamento e saíram para protestar com marchas e bloqueios nas ruas para exigir do governo a flexibilização da quarentena decretada pelo novo coronavírus.



"Nós precisamos que se flexibilize a quarentena, temos pedido e não nos atenderam. Por isso, estamos protestando", disse à AFP Gertrudis Sanabria, dona de casa, que participou do protesto.

A Bolívia está em quarentena nacional desde 17 de março para evitar a disseminação da pandemia de COVID-19, que infectou 3.148 pessoas e causou 142 mortes no país. O governo determinou a suspensão das atividades públicas e privadas, salvo as de emergência, e ordenou a paralisação do transporte público.

As manifestações em Cochabamba começaram na segunda-feira e os habitantes bloquearam o acesso a um depósito municipal de lixo no sul da cidade. A ação paralisou a coleta de resíduos e em alguns bairros da cidade de mais de 700.000 habitantes é possível ver lixo nas vias públicas.

Além disso, protestos de rua esporádicos têm ocorrido, com queima de pneus e bloqueios com pedras em avenidas e caminhos durante a semana, o que levou a polícia a dispersá-los com o uso de bombas de gás lacrimogêneo.

As primeiras demandas foram por água potável em domicílio, inexistentes na região, e por comida. Os manifestantes criticam que o governo e a prefeitura tenham descumprido suas promessas de doação de alimentos.



Nesta quinta-feira, exigiram também a renúncia da presidente interina Jeanine Áñez e de seu ministro do Governo (Casa Civil), Arturo Murillo.

"Não queremos essa presidente, não queremos essa mulher", disse Gertrudis Sanabria. Seu vizinho, Víctor Izquierdo Chambi, acrescentou: "Não estamos na 'fomecracia', estamos na democracia (...) Não há água, não há alimentos".

Outro manifestante, que não se identificou, se aproximou de um cinegrafista da AFP e disse: "Que este senhor ministro (Murillo) e sua presidente renunciem de uma vez para que não fiquem roubando o dinheiro do povo e matando de fome a nossa população".

Nos últimos dias, líderes locais têm celebrado negociações com o governo e o município, sem resultados.

O ministro Murillo abriu a possibilidade de que o poder executivo abra uma mesa de diálogo, mas pediu que seja pacífica.

"Faço um apelo àquelas pessoas que querem desestabilizar, que tenham consciência. A morte pode bater na porta de suas casas. Não é momento de fazer política ou tentar desestabilizar", declarou.