Mais de cinco meses após o surgimento da COVID-19 na China, o mundo está aceitando a ideia de conviver com as limitações e o medo impostos por esse coronavírus. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), "talvez [o vírus] nunca vá desaparecer".
E, em paralelo, os esforços estão sendo redobrados para revitalizar a economia, mergulhada em uma recessão sem precedentes.
A maior economia europeia, a Alemanha, confirmou nesta sexta-feira uma queda de 2,2% em sua atividade no primeiro trimestre e espera um declínio anual de 6,3%.
Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), o volume de transações globais registrará uma "queda de dois dígitos" em quase todas as regiões do mundo.
Nesta sexta, os ministros das Finanças da zona do euro se reuniram virtualmente para discutir sua resposta à crise.
Pioneira no desconfinamento, a Áustria deu um passo simbólico hoje com a reabertura de seus restaurantes e cafés.
Fanny e Sophie, duas estudantes de 19 anos, esperavam impacientemente para retomar seus hábitos no Café Goldegg, perto do museu Belvedere.
"Para nós, foi difícil todo esse tempo. Sentimos falta desse café e voltaremos assim que possível", disseram, tomando café da manhã à mesa.
Uma atmosfera relativamente animada que contrastava com a de Veneza, onde a ausência de turistas fez até os pombos deixarem a Praça de São Marcos, na ausência de visitantes para alimentá-los.
"Sem turistas, Veneza é uma cidade morta", disse Mauro Sambo, um gondoleiro de 66 anos.
O Vaticano, por sua vez, anunciou a reabertura da Basílica de São Pedro, em Roma, após uma desinfecção completa e respeitando as mesmas normas que nas demais igrejas italianas.
Enquanto isso, a Alemanha se prepara para retomar a liga de futebol neste fim de semana, com partidas a portas fechadas. Já a Eslovênia, que declarou o "fim" da epidemia em seu território, anunciou que reabrirá suas fronteiras. Na Rússia, o campeonato será retomado em junho.
E a Irlanda anunciou que começará a flexibilizar progressivamente o seu confinamento a partir da segunda-feira e até agosto, embora vá impor 14 dias de quarentena aos viajantes estrangeiros.
A Espanha já começou a aplicar a mesma medida, obrigando a quem chega a tomada de temperatura e quarentena voluntária de 14 dias.
- "Voltar ao trabalho" -
No entanto, as medidas de distanciamento social ainda estão em vigor em todo mundo.
Na França, onde mais de 27.500 mortes foram registradas, os cidadãos vão poder aproveitar o primeiro fim de semana de desconfinamento para tomar ar e procurar uma área verde onde possam respirar.
"Eu realmente preciso me exercitar depois de trabalhar a semana toda em um escritório", disse Sylvie Bosredon, moradora da região de Paris, que planeja dar uma caminhada neste fim de semana entre Fontainebleau e o vale Chevreuse, ao sul da capital, convencida de que o passeio ajudará a "oxigenar".
O país continua regido por inúmeras restrições, embora muitas praias tenham sido autorizadas a reabrir. O primeiro-ministro, Édouard Philippe, convidou a população a começar a planejar as férias de verão.
Além disso, o país anunciou nesta sexta-feira a primeira morte de uma criança por uma doença semelhante à de Kawasaki, que se acredita estar ligada à COVID-19.
A este respeito, a OMS anunciou nesta sexta que investiga o vínculo entre as doenças.
"Os relatórios iniciais indicam que esta síndrome pode estar relacionada à COVID-19", anunciou a organização sanitária da ONU.
Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, onde mais de 86.700 mortes foram confirmadas, o presidente Donald Trump convidou os cidadãos a "voltarem ao trabalho". Quase 15% da população ativa está desempregada, um recorde.
Apesar disso, a confiança dos consumidores melhorou no início de março nos Estados Unidos, quando os lares receberam ajuda governamental para enfrentar o impacto econômico da pandemia, segundo estimativa da Universidade de Michigan, publicada nesta sexta.
Enquanto as praias próximas de Los Angeles reabriram, Nova York, a capital econômica do país, permanece paralisada. Com mais de 20.000 mortos, teve o confinamento estendido até 28 de maio.
"Todas as razões pelas quais estamos [em Nova York], os restaurantes, os concertos... Desapareceram", lamentou Hans Robert, um encarregado informático de 49 anos.
- "Genocídio" no Brasil -
Na América Latina, que registrava oficialmente nesta sexta-feira mais de 25.600 mortes e 454.000 casos diagnosticados, o Brasil é o país mais afetado, com quase 15.000 mortes.
Uma crise que levou o ministro da Saúde, Nelson Teich, a renunciar nesta sexta, alegando "incompatibilidades" com o governo de Jair Bolsonaro, que se opõe a medidas rígidas de confinamento e promove o uso da cloroquina, segundo fontes do ministério à AFP.
Teich ficou ocupou menos de um mês o cargo, depois de ter substituído em 17 de abril Luiz Henrique Mandetta, destituído por Bolsonaro, igualmente por discordâncias sobre o combate à pandemia do coronavírus.
Em agosto, o Brasil poderá atingir 90.000 mortes devido à pandemia, de acordo com uma projeção do centro norte-americano que assessora a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
A previsão aponta ainda que, até lá, México, Peru e Equador atingirão 6.000 mortes, e a Argentina, 700.
De acordo com Christopher Murray, diretor do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde da Universidade de Washington (IHME), que assessora a OPAS, o Brasil atingirá o pico da epidemia no final de junho, observando que o inverno "provavelmente vai piorar as coisas".
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista à AFP, que teme que a forte oposição do presidente Jair Bolsonaro à aplicação de medidas de confinamento leve a um "genocídio".
- Esperança? -
A Rússia é outro país onde a pandemia é violenta. Cerca de 10.000 novos casos são detectados todos os dias, levando a prefeitura de Moscou a anunciar um programa de testes de alcance "único" no mundo.
Muitos especialistas desejam saber o verdadeiro balanço do coronavírus no mundo, já que, quando se compara o número de mortes de 2020 ao dos anos anteriores, sem contar as mortes por coronavírus, o número é muito maior.
Por exemplo, 12.428 pessoas morreram na Itália de COVID-19 entre 20 de fevereiro e 31 de março. Mas no mesmo período, as autoridades constataram 25.354 mortes a mais que a média dos cinco últimos anos.
Na África, a pandemia ainda não causou o desastre temido e deixou menos de 2.500 mortos. Em em um estudo divulgado nesta sexta-feira, a OMS alertou, porém, que o continente pode chegar a 190.000 mortes.
Entre dados pessimistas, alguns raios de esperança: uma vacina pode estar disponível dentro de um ano, de acordo com um cenário "otimista" estabelecido pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
O presidente americano, Donald Trump, disse esperar um imunizante antes do fim do ano, "talvez um pouco antes".
Mais de 100 projetos foram lançados no mundo todo e alguns ensaios clínicos estão em andamento para tentar encontrar um remédio para a doença.
A União Europeia insistiu em que a vacina deve ser "um bem de utilidade pública", e seu acesso, "justo e universal".