Com ruas quase vazias e maior controle, Santiago começou a viver neste sábado (16) uma "megaquarentena" imposta após um abrupto aumento de casos e mortes do novo coronavírus na última semana, que mudou drasticamente o panorama na capital chilena.
Segundo as autoridades, que há dois meses vinham evitando confinar completamente a cidade, as atividades normais para uma manhã de sábado diminuíram em 85% na metrópole de sete milhões de habitantes.
"Temos quarteirões e mais quarteirões completamente vazios e a gente entende que este é um bom começo", disse à imprensa o ministro da Saúde, Jaime Mañalich, no aeroporto de Santiago, após fazer um sobrevoo por todas as comunas da cidade, postas em confinamento obrigatório desde as 22h locais de sexta-feira.
A medida drástica foi adotada na semana em que os casos de coronavírus dispararam, dobrando em dez dias, totalizando neste sábado 41.428 contagiados. Nas últimas 24 horas morreram sete pessoas, elevando o total de vítimas fatais a 421.
O panorama é especialmente preocupante em Santiago, pois 80% dos contagiados no Chile estão na capital, onde a ocupação de leitos nos serviços de urgência estava em críticos 90%.
Três pacientes graves foram transferidos durante o dia para a cidade de Concepción (450 km ao sul de Santiago) para abrir espaço nas unidades de tratamento intensivo da capital chilena, onde se esperam dias críticos nas próximas semanas.
Embora a taxa de letalidade (número de falecidos com relação ao total de casos) no Chile seja baixa, com o aumento explosivo dos contágios - até esta semana não passavam dos 1.000 por dia e na quarta-feira superaram os 2.600 -, as autoridades esperam que ela também suba.
"Estamos mantendo a taxa de letalidade perto de 1%, mas ao ver uma quantidade maior de contagiados, obviamente a quantidade de falecidos aumenta", disse neste sábado Arturo Zúñiga, vice-secretário de redes de assistência do ministério da Saúde.
- "Pouquinha gente nas ruas"-
Nas principais ruas de Santiago não se viam quase pessoas caminhando neste sábado. Na Alameda, a principal avenida do centro da cidade, alguns carros particulares e ônibus do transporte público circulavam, todos quase vazios. Havia também pouquíssimos pedestres, constatou a AFP.
"Os começos são sempre muito enérgicos, com muito senso de responsabilidade, mas de modo geral considero que está muito bem, melhor do que poderia esperar. Vi pouquinha gente" nas ruas, disse à AFP Carlos, taxista de 57 anos.
Em várias comunas, viam-se muitas motocicletas de serviços de entrega autorizados a circular durante a quarentena e algumas pessoas passeavam timidamente com seus animais de estimação durante os 30 minutos permitidos pelo confinamento.
Pequenos comércios permaneciam abertos, assim como os supermercados, onde a entrada era controlada.
Em grandes mercados atacadistas como La Vega e Lo Valledor, onde normalmente há grandes aglomerações, havia muito menos gente após um maior controle policial nos acessos do que nos dias anteriores.
Maior efetivo policial e militar - foram mobilizados 14.000 homens - controlavam o tráfego e supervisionavam as permissões com as quais é possível circular durante a quarentena.
O panorama é muito diferente do que o registrado há poucos dias. O Chile tinha optado até agora por uma estratégia de quarentenas "dinâmicas" ou parciais, que em alguns casos abrangiam apenas partes de algumas comunas e em Santiago muitas pessoas haviam encontrado formas de evitar as restrições e conseguiam também se movimentar pela cidade.
"Sob o meu ponto de vista, a população tem agido de forma responsável", disse à AFP Valentín Vera, engenheiro civil que se deslocava de bicicleta para evitar o contágio do coronavírus.
"Mas na última semana, vimos disparar o número de contágios e não é a norma. Por isso, a autoridade nacional teve que tomar esta medida (do confinamento total)", emendou.