Apesar do fato de as viagens estarem proibidas para impedir a propagação do coronavírus, muitos indonésios decidiram recorrer a traficantes ou certificados falsos para se reunir com a família e celebrar o Eid al-Fitr, a festa que marca o fim do Ramadã, como todos os anos.
Esses deslocamentos suscitam temores de uma aceleração da pandemia no maior país muçulmano do mundo, onde foram impostos dois meses de confinamento parcial.
Milhares de indonésios estão dispostos a fazer qualquer coisa para ver suas famílias e celebrar o Eid al-Fitr, o principal feriado muçulmano que encerra o mês de jejum do Ramadã.
"É um momento crítico. Receio que as pessoas que forem para outras regiões voltem infectadas e que todos os esforços sejam arruinados", disse Doni Monardo, que lidera a luta contra a COVID-19 na Indonésia.
Todos os anos, várias dezenas de milhões de indonésios, a maioria trabalhadores migrantes das grandes cidades, viajam por esse arquipélago de quase 5.000 quilômetros de extensão, uma migração comparável, em pequena escala, à do ano novo chinês.
Com medo de um desastre sanitário, o governo anunciou no mês passado a suspensão das conexões aéreas e marítimas, bem como barreiras rígidas para limitar as viagens entre regiões e proibiu essa grande migração anual.
Mas, sob o risco do colapso da economia, decidiu suspender algumas medidas para permitir que alguns viajem com um atestado médico, sob a condição de que possam demonstrar a necessidade imperativa de fazê-lo.
Aproveitando essa lacuna, Kamal e sua esposa obtiveram um certificado falso para sua filha, uma estudante em Jacarta, o epicentro da epidemia no país.
O documento falso garante que sua filha tem que distribuir material para a luta contra o coronavírus em Makassar, sua cidade natal, na ilha de Celebes.
"Estamos muito preocupados com a saúde dela se continuar em Jacarta", explica Kamal, que não quer dar seu nome verdadeiro.
"Mas o mais importante é que sentimos muita falta dela. Queremos celebrar o Eid juntos, como nos outros anos".
A polícia tenta combater uma onda de certificados falsos vendidos on-line e na semana passada prendeu sete pessoas em Bali por venderem documentos falsos.
É por isso que os mercados subitamente se encheram de pessoas que querem comprar roupas antes da festa.
As autoridades temem que as mesquitas sejam fiquem lotadas, apesar dos apelos de muitas regiões para que as pessoas fiquem em casa.
O jogo de gato e rato com a polícia se intensificou com a aproximação do Eid. Viajantes foram encontrados escondidos em caminhões, no porta-malas de ônibus ou até em uma betoneira.
"As pessoas tentam nos enganar de várias maneiras", disse o porta-voz da polícia de Jacarta, Yusri Yunus.
A Indonésia registrou nesta semana um novo recorde diário de infecções e o número oficial de mortes por COVID-19 ultrapassa 1.300, o mais alto na Ásia depois da China.
No entanto, acredita-se que os números reais estejam muito acima, neste país de 260 milhões de habitantes, onde quase não são realizados testes.
Além disso, está a crise econômica que, nas últimas semanas, obrigou muitos indonésios a voltar para casa porque não conseguiram sobreviver nas grandes cidades depois de perderem o emprego.