A Europa acelerou seu desconfinamento nesta sexta-feira (29), enquanto a pandemia de coronavírus continua a avançar nas Américas, com mais de 1.000 mortes em 24 horas nos Estados Unidos e no Brasil, e na Ásia cresce a preocupação com uma nova onda.
Nos cinco meses desde o aparecimento em dezembro do coronavírus em Wuhan, na China, a COVID-19 matou cerca de 360.000 pessoas e infectou mais de 5,8 milhões, segundo dados oficiais, provavelmente muito abaixo da realidade.
O impacto do vírus também tem sido letal para a economia mundial.
Na França, a montadora Renault anunciou o corte de cerca de 15.000 empregos em todo mundo. Também informou que "adaptará" suas capacidades na Rússia e suspenderá seus projetos no Marrocos e na Romênia.
Sua parceira japonesa Nissan já havia anunciado na quinta-feira o fechamento de sua fábrica em Barcelona (Espanha) e a redução de 20% de suas capacidades até 2023.
Já o PIB da Itália e da França caíram 5,3% no primeiro trimestre como resultado da pandemia, segundo dados publicados nesta sexta.
No Brasil, a queda foi de 1,5% no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior.
Duramente atingida pela pandemia, com mais de 176.000 óbitos em meio a 2,1 milhões de casos, a Europa continua seu desconfinamento após a desaceleração da propagação do vírus.
As fronteiras externas da União Europeia permanecem fechadas, e as internas serão reabertas gradualmente.
A Rússia registrou um novo registro diário de óbitos (232), elevando seu total para 4.374 em 387.623 casos.
Em um mundo globalizado, o fechamento de fronteiras significou um revés nas relações pessoais.
"É realmente difícil não poder sentir fisicamente nenhuma intimidade, dar um beijo, ou abraço", disse à AFP Melinda Schneider, canadense de 26 anos, que não vê seu namorado dinamarquês há mais de quatro meses.
A Suíça anunciou nesta sexta-feira a morte de um bebê devido a coronavírus após ser infectado no exterior.
- Hotéis na Áustria, mesquitas na Turquia -
Na tentativa de recuperar a normalidade, a Áustria reabre seus hotéis e infraestruturas turísticas, e a Turquia reabre parcialmente suas mesquitas.
No Reino Unido, escolas e lojas poderão abrir a partir de segunda-feira.
Na França, museus, parques e cafés serão abertos na terça-feira (no caso de Paris, será permitido comer apenas nos terraços) e estarão autorizados deslocamentos de mais de 100 quilômetros de casa.
A conhecida loja de departamentos Galeries Lafayette, na capital francesa, também anunciou sua reabertura no sábado.
O futebol também retorna. A Alemanha retomou o campeonato em meados de maio. Espanha, Inglaterra e Itália anunciaram na quinta-feira que farão o mesmo.
Para a Premier League, a mais vista do mundo, será necessário aguardar até 17 de junho, após a Liga Espanhola (semana de 8 de junho) e logo antes da Itália (20 de junho).
- Preocupação no Brasil -
Nas Américas, o novo coronavírus continua fazendo estragos, com mais de 1.000 mortes em 24 horas nos Estados Unidos e no Brasil.
País mais afetado no mundo com mais de 1,7 milhão de casos, os Estados Unidos registraram menos de 700 mortes em 24 horas durante três dias, mas a curva subiu novamente na quarta e quinta-feiras, com 1.401 e 1.297 mortes, respectivamente.
O país superou a cifra simbólica de 100.000 mortes e, ontem, o presidente dos EUA, Donald Trump, ofereceu condolências às famílias das vítimas do vírus.
Na Pensilvânia, o silêncio de um parlamentar republicano sobre a pandemia provocou a fúria dos democratas.
Ao contrário de Nova York, a cidade mais afetada do mundo, Washington foi relativamente poupada do coronavírus, e a capital dos Estados Unidos começou a suspender as restrições nesta sexta-feira.
O Brasil registrou seu terceiro pior dia desde o início da pandemia, com 1.156 mortes e um total de 26.754 casos nas últimas 24 horas.
A crise da saúde é, por vezes, acompanhada por uma crise alimentar, como no nordeste do país.
"Em 26 anos, nunca vi tantas pessoas vivendo angustiadas, ou com fome", disse a fundadora da instituição de caridade Amigos do Bem, Alcione Albanesi.
"Tudo parou. Mas a fome continua", ressalta.
Países como Chile e Peru registraram novos recordes nacionais na noite de quinta-feira: o primeiro, em número de mortes (49); e o segundo, de contaminações (5.874).
Alguns países têm uma situação um pouco menos dramática, como a Bolívia (cerca de 300 mortes e 5.400 casos), a ponto de anunciar na quinta-feira o levantamento de parte das restrições a partir de segunda-feira.
- Novas restrições na Coreia do Sul -
A situação na Ásia, primeiro continente afetado e que parecia ter deixado o vírus para trás, volta a preocupar, com o surgimento de novos casos.
Até então vista como um exemplo de controle da doença, a Coreia do Sul restabeleceu as restrições após recuperar a normalidade.
Em fevereiro, era o segundo país mais afetado do mundo, atrás da China, antes de conter a epidemia.
Depois que os casos dispararam na quinta-feira, porém, parques e museus serão fechados por duas semanas, e o número de estudantes na região metropolitana de Seul cairá.
Já nesta sexta, os novos casos voltaram a cair, para 58 em comparação com os 79 do dia anterior, o maior aumento em quase dois meses.
Enquanto isso, o Sri Lanka reativará as medidas de confinamento, após registrar seu maior aumento diário - a maioria de cingaleses provenientes do Kuwait e de marinheiros de uma base perto de Colombo.
No Irã, o número de casos detectados em 24 horas aumentou, o maior em quase dois meses, com 2.819.
O número total de contaminações é agora 146.668. Por sua vez, a Índia anunciou seu pior crescimento em duas décadas no primeiro trimestre do ano.