Os bolivianos retornaram ao trabalho e o transporte público voltou a operar em várias cidades do país nesta segunda-feira (1), no primeiro dia de relaxamento da quarentena, mas o medo de contrair o coronavírus continua.
"Andamos com medo, eu pessoalmente devo admitir que sinto medo", disse Rolando Molina, funcionário público de 40 anos, à AFP.
"Não sei se o cidadão na esquina ou na calçada em frente ou a pessoa que atravessa ao meu lado está doente ou saudável. Não sabemos", acrescenta.
Molina caminha para o trabalho pelo centro de La Paz, ponto de maior fluxo de pedestres. Ele usa máscara e óculos de segurança industrial.
Além de La Paz e El Alto, as cidades de Oruro (oeste), Sucre (sudeste), Cobija (norte) e Cochabamba (centro) também iniciaram o desconfinamento.
As cidades de Santa Cruz (leste) e Trinidad (nordeste), as mais atingidas pela pandemia, decidiram estender a quarentena.
Em La Paz, quase todas as pessoas nas rua usavam máscaras, uma exigência do governo, sob pena de multa.
A vendedora Marcela Gonzallo também diz que sai "com medo" para trabalhar em La Paz.
Protegida com uma máscara e um boné com viseira, a mulher de 39 anos admite ter poucos recursos financeiros e que a ajuda mensal de 500 bolivianos (cerca de US$ 72) concedida pelo governo durante a crise é insuficiente para as necessidades da família.
O governo boliviano deixou para os governos departamentais (estaduais) e prefeitos tomarem medidas para relaxar a quarentena contra o coronavírus, que começou em 17 de março após a notificação dos primeiros casos.
O coronavírus infectou quase 10.000 pessoas e causou mais de 300 mortes na Bolívia, país de 11 milhões de habitantes.
- Alerta contra novas infecções -
Nas cidades, 40% do transporte público voltou a funcionar, além de empresas privadas e públicas.
A rede de teleféricos de La Paz e El Alto opera novamente com metade da capacidade e apenas por 10 horas.
"Estamos tomando todas as medidas de biossegurança (e) no caso de uma pessoa não usar máscara, não vai entrar" ou usar esse sistema de transporte, diz o gerente Jorge Bonadona.
Flexibilizar a quarentena significa um maior movimento de pessoas nas ruas e o temor por novos contágios nos próximos dias.
O representante na Bolívia da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Alfonso Tenorio, diz que o impacto dessas medidas será conhecido em uma ou duas semanas.
Jhonny Camacho, membro do Comitê Científico COVID-19, um órgão consultivo do estado, ressalta que "é um risco muito alto" que "criará problemas em duas semanas".
- Rastreamento casa a casa -
Em Trinidad, capital da região amazônica de Beni, médicos, paramédicos, policiais e militares iniciaram uma operação de casa a casa nesta segunda-feira para detectar casos de COVID-19.
Beni, na fronteira com o Brasil, é o segundo departamento (estado) mais afetado pela pandemia, depois de Santa Cruz, com 1.809 infectados e 92 mortes.
"Mais de 65 brigadas estão em movimento", diz o ministro da Presidência, Yerko Núñez.