Jornal Estado de Minas

AIEA manifesta preocupação com bloqueio do Irã a inspeções

O Irã acumulou urânio enriquecido em níveis oito vezes superiores ao limite autorizado pelo acordo de 2015 e por meses bloqueou inspeções em dois locais onde pode ser registrada atividade nuclear, informou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) nesta sexta-feira (5).



A AIEA também expressou "profunda preocupação" com a falta de acesso a duas instalações iranianas, que a agência das Nações Unidas deseja inspecionar como parte de sua missão de verificação das atividades nucleares do Irã.

A agência disse que, "com profunda preocupação, por mais de quatro meses, o Irã negou o acesso da agência a duas instalações", segundo o relatório ao qual a AFP teve acesso.

Essas duas instalações estão entre as três que a agência relaciona com a existência de material nuclear não declarado e atividades no passado.

De acordo com as últimas constatações dos inspetores da AIEA, a quantidade acumulada por Teerã em 20 de maio era de 1.571,6 quilos de urânio enriquecido, em vez dos 202,8 quilos (ou 300 quilos de hexafluoreto de UF6) autorizados. Em um relatório anterior de fevereiro, o valor acumulado era de 1.020,9 quilos.

Essa postura complica os esforços para tentar salvar a estrutura do acordo internacional de 2015 sobre a questão nuclear iraniana, do qual os Estados Unidos se retiraram em 2018 e do qual o Irã se distancia gradativamente desde maio de 2019.

Em resposta ao restabelecimento das sanções dos EUA, o Irã mantém sua trajetória de produção de urânio.



Especialistas consideram que a quantidade necessária para fabricar uma bomba nuclear é da ordem de 1.050 quilos de urânio equivalente UF6, pouco enriquecido para menos de 5%, um limite que o Irã excedeu desde o início do ano.

Ao contrário das obrigações estabelecidas pelo pacto previsto para limitar drasticamente suas atividades nucleares, o Irã também produz urânio enriquecido a uma taxa de 4,5%, superior ao limite de 3,67% estabelecido no texto do acordo, segundo o relatório consultado pela AFP.

No entanto, a taxa de enriquecimento não aumentou desde julho de 2019 e ainda está muito longe do limite necessário para a fabricação de uma bomba atômica (mais de 90%).

O Irã anunciou em janeiro que não se considerava mais comprometido com as obrigações previstas no acordo de Viena, sugerindo a mudança para uma taxa de enriquecimento de 20%.

Esse estágio teria acelerado bastante o processo que pode levar à fabricação de uma bomba.

- "Grande preocupação" -

O Irã também quer continuar controlando a agenda de outro tema que preocupa os signatários europeus do acordo de Viena (França, Reino Unido e Alemanha): acesso a dois locais que a AIEA deseja revisar há vários meses.



Esses locais não estão relacionados às operações atuais no Irã. Segundo várias fontes diplomáticas, eles estão relacionados aos projetos nucleares militares do país nos anos 2000.

O país, entretanto, tem a obrigação de responder aos pedidos de explicação da agência como país signatário do Tratado de Não Proliferação (TNP), enfatizam os especialistas.

Um dos locais "poderia ter sido usado para o tratamento e conversão de minério de urânio, incluindo fluoretação em 2003". O local "sofreu grandes mudanças em 2004, especialmente a demolição da maioria dos edifícios", diz o relatório.

Um terceiro espaço sobre o qual a AIEA se questiona "foi objeto de extensos trabalhos de saneamento e nivelamento em 2003 e 2004", aponta o relatório.

O assunto será central para o conselho de governadores da AIEA, que se reunirá a partir de 15 de junho e deve voltar a exigir transparência do Irã sobre o tema.