A cidade de Nova York, epicentro da pandemia do novo coronavírus nos Estados Unidos, começou a reabrir economicamente nesta segunda-feira (8), após um confinamento de três meses, no mesmo dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a situação por causa da pandemia piora em todo o mundo.
A COVID-19, que já deixou mais de 7 milhões de infectados e mais de 404.000 mortos em todo o mundo, agrava-se na América Latina, especialmente no Brasil, México e Peru, os países mais afetados.
"Embora a situação na Europa esteja melhorando, globalmente há uma piora", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista por chamada de vídeo em Genebra.
"Em nove dos últimos 10 dias, mais de 100.000 casos foram relatados. Ontem, mais de 136.000 casos foram contabilizados, o máximo em um único dia", acrescentou.
Segundo o chefe da OMS, quase 75% dos casos registrados neste domingo estavam concentrados em 10 países, a maioria das Américas e do sul da Ásia.
Cerca de 400.000 nova-iorquinos voltaram aos seus empregos nesta segunda, exatamente 100 dias depois do primeiro caso de coronavírus, e no primeiro dia da reabertura parcial, que permite o retorno da construção e das manufaturas. As lojas podem fazer entregas nas calçadas ou dentro dos seus comércios, para clientes que tenham feito compras on-line.
"Me sinto bem de voltar", disse à AFP Michael Ostergren, gerente da livraria Shakespeare & Co., situada no bairro Upper West Side de Manhattan, enquanto os primeiros clientes chegavam para pegar seus livros. "Todos querem sair de casa", afirmou.
"Este é um momento triunfal para os nova-iorquinos que lutaram contra essa doença", disse o prefeito Bill de Blasio à CNN.
Mas a América Latina, novo epicentro do vírus, com mais de 1,3 milhão de casos e quase 66.000 mortes, prepara-se para o pior. O Brasil tem o terceiro maior número de mortes por coronavírus no mundo, mais de 36.000, mas o presidente Jair Bolsonaro continua minimizando o impacto da doença e pede que os governadores suspendam as medidas de isolamento.
Críticos acusam Bolsonaro de manipular os números de coronavírus depois que seu governo parou de divulgar dados de novos casos e mortes e deu informações contraditórias.
No México, segundo país con o maior número de óbitos na região, o presidente Andrés Manuel López Obrador, que voltou a fazer viagens pelo país, disse que não irá fazer testes para a doença, apesar de um membro do governo que o acompanha em suas coletivas diárias à imprensa ter testado positivo.
O Peru, o terceiro país mais afetado na América Latina, apesar da quarentena obrigatória imposta há 85 dias, tem seu sistema de saúde à beira do colapso por causa da falta de oxigênio.
Na Ásia, o medo do vírus persiste, por não se ter certeza de que ele esteja controlado, e os casos e mortes aumentam na Índia, cujo governo autorizou a reabertura de locais de oração e centros comerciais após um confinamento de 10 semanas.
- Mais casos por causa dos protestos? -
Desde março, o novo coronavírus registrou mais de 21.000 mortes suspeitas e confirmadas em Nova York, cidade mais populosa dos Estados Unidos.
No coração de Manhattan, K.B. Barton, 61 anos, deixa a The Container Store com três sacolas grandes nas mãos. "Fiz compras on-line e vim buscar meu pedido. Hoje, Manhattan está mais movimentada. Estou mais feliz", disse à AFP, apesar de lamentar que nem todos estejam usando máscaras.
Na região do Queens, o metrô estava mais movimentado do que o normal nas últimas semanas na hora do rush. "Eu quase enlouqueci no confinamento", confessou à AFP Brandy Bligen, uma passageira de 70 anos, que aguarda ansiosamente a chegada da segunda fase da reabertura, que permitirá o funcionamento de restaurantes e cabeleireiros daqui a 15 dias, caso o número de infectados não aumente.
Os bares e restaurantes de Nova York poderão abrir na fase três, mas teatros e museus apenas na última fase, possivelmente no final de julho, e com capacidade reduzida.
Centenas de lojas da cidade ainda estão fechadas devido aos roubos ocorridos durante os protestos contra o racismo e a brutalidade policial ocasionados pela morte de George Floyd.
O toque de recolher de uma semana, imposto pelo prefeito após o roubo de lojas, terminou nesta segunda, às 05H00.
Temendo um novo surto, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, pediu a todos os manifestantes que fizessem o teste para a doença.
Os Estados Unidos, país mais afetado pela pandemia, estão em recessão desde fevereiro, após 128 meses de crescimento,informou o Escritório Nacional de Pesquisa Econômica.
Para o Banco Mundial, o coronavírus causou o maior colapso da economia mundial desde 1870.
- Quarentena para todos no Reino Unido -
Na Europa, mesmo os países mais afetados estão progredindo aos poucos para o chamado "novo normal". Na Bélgica, bares e restaurantes abriram as portas, aplicando medidas de distanciamento social entre clientes. A Irlanda abriu as lojas, além de permitir reuniões de até seis pessoas e viagens para até 20 km de casa.
A reabertura do Reino Unido, o segundo país mais afetado do mundo, com o registro de mais de 40.000 mortes, é cautelosa: quem entrar no país deve cumprir uma quarentena de duas semanas, incluindo os britânicos. Insatisfeitas, as companhias aéreas entraram na justiça.
Na Espanha, que registrou mais de 27.000 mortes, os jogos de futebol da Liga serão retomados na próxima quarta-feira, após três meses de suspensão.
Nas regiões de Madri e Barcelona, a segunda fase do plano de reabertura permite que todas as lojas sejam abertas a partir desta segunda, mas apenas com 40% de sua capacidade.
Nas praias de Barcelona, por exemplo, as pessoas podem tomar banho e tomar sol quando, até o momento, só era permitido caminhar, correr ou praticar natação.