Uma alta funcionária da Organização Mundial da Saúde (OMS) esclareceu nesta terça-feira (9) suas declarações de que a transmissão do novo coronavírus de portadores assintomáticos era "muito rara", afirmando que ocorreu um "mal-entendido".
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OMS aponta contaminação 'rara' da COVID-19 a partir de assintomáticos; Bolsonaro ironiza e infectologista rebatePara OMS, pandemia está longe do fim, apesar de sinais positivosOMS diz ver aceleração dos casos da covid-19 nas Américas Central e do Sul"Nós temos uma série de informes de países que estão fazendo um rastreamento de contatos muito detalhado. Estão seguindo os casos assintomáticos, estão seguindo os contatos e não estão encontrando transmissões secundárias subsequentes. É muito raro", disse ela durante coletiva de imprensa na segunda-feira.
Suas declarações, que foram amplamente reproduzidas nas redes sociais, provocaram reação da comunidade científica e chegaram a ser tema de comentários de uma reunião ministerial do governo brasileiro nesta terça.
"Se a transmissão por parte de assintomáticos é praticamente zero (...), então com toda certeza isso pode sinalizar à abertura mais rápida do comércio e à extinção daquelas medidas restritivas adotadas, segundo decisão do Supremo Tribunal Federal, por governadores e prefeitos", disse o presidente Jair Bolsonaro, que desde o início da pandemia tem criticado o distanciamento social, adotado por autoridades regionais para conter o vírus.
A comunidade científica já tinha se pronunciado, contestando as declarações da especialista da OMS.
"Ao contrário do que a OMS anunciou, não é possível afirmar cientificamente que portadores assintomáticos do SARS-CoV-2 não sejam muito infecciosos", manifestou-se no Twitter o professor Gilbert Deray, do hospital Pitié-Salpetrière, em Paris.
Liam Smeeth, professor de epidemiologia clínica da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, disse ter ficado "muito surpreso".
"Há incertezas científicas, mas a infecção assintomática pode ser responsável por 30% a 50% dos casos. Os melhores estudos científicos até hoje sugerem que até metade dos casos se infectaram através de pessoas assintomáticas ou pré-sintomáticas", afirmou.
Van Kerkhove depois publicou no Twitter uma síntese da OMS sobre a transmissão.
"Estudos abrangentes sobre a transmissão de indivíduos assintomáticos são difíceis de conduzir, mas as evidências disponíveis do rastreamento de contatos por estados membros sugerem que indivíduos infectados assintomáticos são muito menos propensos a transmitirem o vírus do que aqueles que desenvolvem sintomas", destacou.
Durante uma discussão retransmitida nesta terça-feira na conta no Twitter da OMS, Van Kerkhove disse que queria esclarecer um mal-entendido.
"Eu me referia a muito poucos estudos, alguns, dois ou três" e respondia a uma pergunta. "Eu não estava declarando uma política da OMS", afirmou.
"Eu usei a frase 'muito raro' e acho que é um mal-entendido declarar que a transmissão assintomática globalmente seja muito rara. Eu me referi ao subconjunto dos estudos", acrescentou.