O governador do Kentucky prometeu esta semana que todos os moradores negros do estado terão seguro médico, uma iniciativa que justificou pelos riscos específicos que esta minoria corre com a COVID-19 e pela onda de protestos nos Estados Unidos contra o racismo e a discriminação.
"Vamos lançar uma iniciativa para cobrir 100% dos indivíduos de comunidades negras e afro-americanas", disse na segunda-feira Andy Beshear, governador democrata deste estado pobre e rural, de relevo montanhoso.
"As iniquidades do sistema de saúde foram desnudadas nesta epidemia de COVID-19, as consequências destas iniquidades sanitárias são claras: é a morte", acrescentou Beshear.
"A saúde é um direito humano fundamental", disse o governador.
Lovoria Williams, professora da Universidade do Kentucky especializada em iniquidades do sistema sanitário, disse à AFP ter ficado "surpresa para bem" com o anúncio, o qual qualificou de inédito.
No Kentucky, 29% dos afro-americanos vivem abaixo da linha da pobreza, uma proporção que é o dobro da dos brancos nesta situação.
Além disso, os negros sofrem mais de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares, fatores que agravam os riscos de se contrair a COVID-19.
A população afro-americana constitui apenas 8% do total de habitantes do Kentucky, mas representa 16% das mortes provocadas pela pandemia no estado, segundo Williams.
"Não conheço nenhum exemplo no qual a cobertura de saúde esteja determinada pela raça de alguém", disse Lawrence Gostin, diretor do centro sobre o direito à saúde da Universidade de Georgetown.
"Compartilho as intenções do governador, mas se começarmos a permitir vantagens sociais fundamentadas na raça, estamos estabelecendo um precedente perigoso porque alguém mais poderia decidir outorgar um benefício aos brancos ou a uma determinada religião", explicou Gostin, que duvidou da constitucionalidade desta iniciativa.
A reforma sanitária impulsionada pela administração de Barack Obama reduziu de 20% a 6% a proporção de habitantes negros sem cobertura neste estado.