O Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra debate nesta quarta-feira (17) o racismo e a violência policial a pedido dos países africanos, que desejam uma investigação sobre o "racismo sistêmico", em particular nos Estados Unidos, onde a morte de George Floyd gerou um movimento de protesto mundial.
Na terça-feira (16), o presidente Donald Trump anunciou uma reforma limitada da polícia para proibir as polêmicas práticas de detenção com estrangulamento, exceto no caso de perigo para a vida do policial. Os manifestantes reivindicam o veto total desse procedimento.
George Floyd morreu em plena rua, no dia 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota), asfixiado por um policial branco, que o sufocou com o joelho por quase nove minutos, durante sua detenção.
A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, denunciou a morte de Floyd como um "ato de brutalidade gratuita", símbolo do "racismo sistêmico que prejudica milhões de pessoas de origem africana".
Ela defendeu "reparações de diferentes formas" para enfrentar "a herança do tráfico de escravos e do colonialismo".
O irmão de George Floyd, Philonise, pediu à ONU que "ajude os americanos negros" com a criação de uma comissão de investigação independente sobre a violência policial contra os afro-americanos.
"Vocês têm o poder de nos ajudar a obter justiça", declarou em uma mensagem de vídeo, de tom combativo, exibida durante a reunião do Conselho em Genebra.
Em uma versão inicial, o texto da reunião pedia a criação de uma comissão de investigação internacional independente, uma estrutura de alto nível geralmente reservada às grandes crises, como a guerra na Síria.
Representantes dos Estados Unidos pressionaram aliados, porém, para conseguir a retirada da menção na versão final do texto, segundo várias fontes.
O novo rascunho se limita a pedir a Bachelet que "estabeleça os fatos e as circunstâncias relativas ao racismo sistêmico, às supostas violações do direito internacional em termos de direitos humanos e aos maus-tratos contra os africanos e as pessoas de origem africana".
O governo dos Estados Unidos se retirou há dois anos do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que tem a participação regular de países como Cuba e Irã.
Antes do debate, 20 altos funcionários das Nações Unidas de origem, ou ascendência, africana, incluindo o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, assinaram a título pessoal uma declaração, na qual afirmam que "a simples condenação de expressões e atos de racismo não basta".
O embaixador americano na ONU em Genebra, Andrew Bremberg, destacou a "transparência" do país na luta contra a discriminação e a injustiça racial, ao mencionar a reforma de Trump.
"Temos que aproximar a polícia e as comunidades, não distanciá-las", disse Trump na terça-feira, ao reiterar a vontade de restaurar a "lei e ordem", ao mesmo tempo em que prestou homenagem às famílias das vítimas que acabara de encontrar de modo privado.
Apenas um número "muito pequeno" de agentes comete falhas, disse.
Embora tenha lamentado a morte de George Floyd e de outras vítimas negras, o republicano, candidato à reeleição em novembro, evitou o debate sobre o racismo desde o início das manifestações.
Como o presidente dos Estados Unidos tem um poder limitado sobre as forças policiais, que dependem dos estados e das cidades, o decreto presidencial utilizará o incentivo dos subsídios para "estimular" o respeito das "mais elevadas normas profissionais".
Sem esperar pelas ações da administração Trump, ou do Congresso, várias cidades proibiram as práticas policiais polêmicas desde a morte de George Floyd, que motivaram a maior mobilização no país desde o movimento pelos direitos civis dos anos 1960.
A revolta retornou às ruas após a morte de outro afro-americano, Rayshard Brooks, na sexta-feira à noite, em Atlanta. Ele foi atingido por tiros de um policial branco.