Com a decisão de adotar protocolos de saúde, mas sem prazos claros, televisão, cinema e teatro aguardam a autorização para retomarem suas atividades no Peru, suspensas há mais de 100 dias pela pandemia.
A paralisia forçada da indústria cultural e de entretenimento deixou perdas milionárias e um rastro de desempregados, em uma atividade que sempre esteve associada à aglomeração de pessoas.
"Até que se encontre uma vacina, ou tratamento confiável, uma crise muito grande persistirá", disse à AFP Hugo Coya, ex-presidente do Instituto Peruano de Rádio e Televisão e atual gerente-geral da Del Barrio Producciones, principal produtora audiovisual do país.
Há incerteza no setor, pois ele ainda não foi incluído nos planos do governo para a retomada das atividades, suspensas desde 16 de março passado.
Nesse sentido, Coya afirma que as perdas com a paralisação podem chegar a cerca de US$ 588 milhões, o dobro do que o governo reconheceu até agora.
Quando a quarentena começou em 16 de março, Del Barrio tinha no ar a novela "Dos Hermanas", líder de audiência, com nove episódios transmitidos. As gravações foram suspensas, e 200 atores e técnicos ficaram de braços cruzados.
- Adeus aos abraços -
Agora, diz Coya, as produtoras peruanos estão coordenando com o Ministério da Saúde as regras a serem seguidas para que seja possível retomar as gravações de novelas e de outros programas com segurança.
Nos "sets" de cinema e de televisão, a temperatura corporal será medida diariamente, e os testes de diagnóstico de COVID-19 serão realizados em todo pessoal. Os espaços de trabalho também serão desinfetados constantemente, o que aumentará os custos e atrasará o cronograma de produção.
A pandemia também forçará a adoção de novas formas de se fazer televisão.
"A televisão não será a mesma", afirma Coya.
"A primeira coisa é ter poucos atores no set de filmagem. E adeus a beijos e abraços, porque é preciso respeitar uma distância social. Voltaremos a essa linguagem das décadas de 1960, ou 1970, quando muitas cenas românticas eram sugeridas", detalha ele.
- Teatro via streaming -
Os desafios se espalham para outros ramos da cultura e do entretenimento. Segundo dados coletados pelas companhias de teatro, apenas entre março e maio 3.239 apresentações foram canceladas, com 15.000 ingressos devolvidos e quase US$ 100.000 em reembolsos.
O teatro peruano respira fundo e busca alcançar o público por meio de plataformas de streaming, onde se paga para ver obras em vídeo, explicou à AFP Walter Espinoza, da produtora Neópolis.
De acordo com dados de produtores teatrais, 3.239 apresentações foram canceladas desde março no país, com 15.000 ingressos a serem devolvidos. Com milhões em perdas, as companhias teatrais procuram opções para sobreviver.
Cofundado há três anos por Ana Chung Oré, o Centro Cultural de Cinema Olaya de Lima organizou este mês um show ao vivo através da plataforma Zoom, com palestras com artistas, sessões de desenho e criações visuais digitais, tudo com música.
"A conjuntura nos obrigou a pausar o Centro Cultural, talvez para sempre", disse Chung à AFP.
"Mas aproveitamos as mídias digitais, que nos abrem uma nova janela para a exploração e o desenho de novas plataformas. Essa será a nova linguagem, mas não a única, e muito menos substituirá as experiências vivas", acrescenta ele.
Em seu primeiro show via streaming, 130 pessoas pagaram pelo acesso. O valor arrecadado chegou a cerca de US$ 950.
- 104 salas de cinema fechadas -
O cinema não está melhor. No Peru, há 104 salas fechadas, afetando cerca de 10.000 trabalhadores. As perdas até o momento somam mais de US$ 51 milhões, segundo a imprensa peruana.
A maior rede de cinemas, a Cineplanet, anunciou em 12 de junho que "muito em breve" apresentaria às autoridades os protocolos operacionais, com "medidas sanitárias de prevenção, limpeza e desinfecção para funcionários, clientes e fornecedores". Mas eles ainda não têm uma data de reabertura.
Com 33 milhões de habitantes, o Peru é o segundo país da América Latina com mais casos de contágio (268.602), atrás do Brasil, e é o terceiro em mortes (8.761), depois do gigante da América do Sul e do México.