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Estado de Minas

Izaías, o pastor que consola famílias de vítimas da COVID-19 em Manaus


postado em 26/06/2020 12:07

Izaías Nascimento leva uma vida dupla: de dia, realiza serviços funerários para famílias pobres que perderam seus entes queridos, muitos para o novo coronavírus, em Manaus, capital amazonense. À noite, o pastor evangélico oferece palavras de consolo nestes tempos de pandemia.

Deus, afirma, o chamou há quatro anos: "Vai cuidar dos meus filhos que estão precisando de um consolo, de uma palavra amiga".

Desde então, ele se tornou pastor da Igreja Pentecostal Alcançando Vidas. Uma missão que ganhou mais sentido quando o novo coronavírus chegou ao Brasil, o segundo país mais castigado pela pandemia, atrás apenas dos Estados Unidos.

Com quase 70.000 contágios e quase 3.000 mortes, o estado do Amazonas é um dos mais afetados pelo vírus e sua capital, Manaus, esteve à beira do colapso em maio, quando os óbitos diários aumentaram 200% e o sistema de saúde estava saturado.

A facilidade com as palavras e a empatia ajudam o pastor Izaías durante suas horas de trabalho na SOS Funeral, um programa social de cerimônias fúnebres da prefeitura para famílias com poucos recursos.

Às sete da manhã ele começa uma jornada que dura 12 horas. Este homem corpulento, de 49 anos, se veste dos pés à cabeça com um traje de proteção contra o coronavírus e em uma van, com caixões a bordo, sai em busca de cadáveres em hospitais e casas.

"Sinto a dor do próximo. Esse é o emprego que mais amo, Deus me colocou lá", conta Izaías à AFP, explicando que o programa ajuda famílias com o caixão e o traslado do corpo para o cemitério.

Durante o pico da pandemia, "não tínhamos descanso", conta Izaías. Sua equipe - uma das oito do SOS Funeral - chegou a realizar uma dezena de enterros por dia. Mas as coisas voltaram à "normalidade" e hoje são cerca de três funerais diários.

- Dor e consolo -

Muitas famílias passam do sofrimento à raiva quando chega o momento de se despedir de seus entes queridos para que Izaías os leve a cemitérios públicos, onde são sepultados em valas comuns desde que a pandemia atingiu Manaus com força.

Os parentes "ficam desesperados, saem gritando, 'Não leva a minha mãe! Não leva o meu pai!'. E a gente tem que aguentar. Às vezes somos agredidos, mas temos que ficar calados porque eu sei que dói", relata.

Usando uma máscara preta com a inscrição 'SOS Funeral', Izaías consola um jovem que acaba de enterrar o pai, vítima do novo coronavírus. Pelas normas da Prefeitura, o jovem deve se despedir sozinho no cemitério público.

"Deus me deu esse dom da palavra, faço com amor e dedicação apesar de ser um trabalho de risco", afirma o pastor, que durante toda a crise garante não ter sentido medo nem do vírus, nem da morte.

Às sete da noite, Izaías volta para casa, toma banho e janta com sua família. Mas, sua jornada continua, pois volta a sair para celebrar um culto na casa de algum membro de sua igreja.

Sua voz forte ressoa na pequena cozinha de uma das "irmãs" que ofereceu sua casa humilde de tijolos para celebrar o encontro, pois as autoridades proibiram as missas para evitar aglomerações.

O pequeno grupo, usando máscaras e com os braços levantados para o alto, agradece a Deus e recupera as forças com as palavras que Izaías vocifera.

Quando tudo passar, talvez, este pastor retome a construção de sua própria igreja na casa que sua sogra lhe deu de presente anos atrás.


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