Nas padarias de Teerã, os homens preparam o que os iranianos chamam de "barakat" (bênção) da mesa, um pão tradicional que é comido a qualquer hora do dia.
Para localizar uma padaria na capital, basta olhar para as longas filas de espera que se formam na entrada, na calçada, ou simplesmente seguir o cheiro de pão fresco saído do forno.
Em Teerã, os padeiros são, sem exceção, homens. Alguns são azeris, curdos...
Vestidos com um avental branco e, às vezes, um boné da mesma cor, acordam muito antes do amanhecer, quando a capital ainda dorme.
Com movimentos precisos, o padeiro faz uma bola de massa, que ele sova em uma placa antes de colocá-la em um forno a gás ou tradicional.
Depois de cozido, serve aos clientes. Outras vezes, penduram nas paredes.
Em algumas padarias, as paredes parecem um mosaico de pães recém-assados, tradicionalmente em quatro formas e tamanhos: barbari, lavash, sangak e taftan.
Não ficam por muito tempo em exibição. Os clientes que esperam na entrada impacientam para comê-los ainda quente.
Para os iranianos, essas "bênçãos" acompanham um prato de kebab (um tipo de carne típico da região) no almoço ou um pedaço de queijo feta e uma xícara de chá no café da manhã.
Sangak continua sendo o pão nacional. É feito com farinha de trigo integral, à qual, às vezes, são adicionadas sementes de gergelim ou papoula, para se adequar ao cliente.
- Pão sem vírus -
Como muitos outros, os padeiros viram sua renda diminuir devido à pandemia do novo coronavírus, que no Oriente Médio afetou bastante o Irã.
"No início da pandemia, alguns de nossos clientes em quarentena compraram matéria-prima para fazer pão em casa", disse à AFP o padeiro Esmail Asghari.
Mas fazer pão tradicional em casa não é fácil e os padeiros logo recuperaram a clientela.
"Durante a quarentena, fiz pão duas vezes em casa, mas não saiu bom e percebi que não era uma boa ideia", diz Negar Rezai, que acaba de comprar uma sangak no norte de Teerã.
"Comemos pão no café da manhã e no jantar, e frequentemente arroz no almoço", acrescenta essa dona de casa de 50 anos.
Para tranquilizar os clientes sobre as normas de higiene em tempos de pandemia, os padeiros costumam aplicar medidas sanitárias rigorosas impostas pelo Ministério da Saúde, como distanciamento social. Também não aceitam dinheiro em espécie.
"Tivemos muitas dificuldades durante o mês de jejum do Ramadã, com longas filas de espera, muitos (clientes) não respeitavam as instruções", reconhece Mohamad Mirzakhani, padeiro especializado em taftan.
Segundo dados publicados em janeiro pelo Ministério da Saúde, os iranianos consomem 310 gramas de pão por dia.
"O pão é o alimento básico e o alimento principal do nosso povo", afirma o ministério.
Comer pão é um prazer para alguns, mas a única opção para quem não tem meios de comprar arroz, outro alimento essencial da gastronomia iraniana, incorporado na grande maioria de seus ensopados.
"O preço do arroz aumentou tanto recentemente que não podemos mais comê-lo regularmente", lamenta Mirzakhani.