No início da pandemia de COVID-19, as prescrições para o medicamento hidroxicloroquina nos Estados Unidos aumentaram 86% em um mês, depois de ter sido promovida por comentaristas conservadores e pelo presidente Donald Trump como um possível "presente do céu", segundo um estudo publicado nesya segunda-feira pela revista Jama.
O medicamento, utilizado contra a malária e doenças como lúpus e artrite reumatoide, foi o mais politizado durante a pandemia. Quando começou a crise, foi fortemente defendido pelo médico francês Didier Raoult e nos Estados Unidos por partidários de Trump e os apresentadores da Fox News.
Esta droga foi a primeira a receber, no final de março, uma aprovação de emergência da Administração de Drogas e Alimentos dos Estados Unidos (FDA). Porém, perdeu sua aprovação após seguidas advertências sobre seus efeitos colaterais e depois de importantes estudos revelarem que o remédio era ineficaz contra a COVID-19. No final de maio, a França proibiu o seu uso para os pacientes com coronavírus.
Antes de ser autorizado nos hospitais dos Estados Unidos especificamente, os médicos nas cidades do país tinham a liberdade para prescrever este medicamento para qualquer situação, como ocorre com os medicamentos aprovados pelo órgão regulador. Muitos teriam feito isso a pedido de seus pacientes, provavelmente como uma forma de se prevenir erroneamente contra o coronavírus.
O número de americanos receitados com a hidroxicloroquina aumentou em 86% entre fevereiro e março de 2020, passando de 367.000 para 684.000, segundo os dados de faturamento de 48.900 farmácias dos Estados Unidos que cobrem quase todo o mercado.
No caso da cloroquina, o aumento foi de 159%, mas este afetou a poucos pacientes, apenas 6.000
Os dados mostram que o "coquetel" promovido por Raoult, a saber, a hidroxicloroquina e o antibiótico azitromicina, gerou uma demanda extraordinária: de 8.000 pacientes em fevereiro que tomaram os medicamentos juntos, passaram para mais de 100 mil em um mês, um aumento de 1.044%.
Este duplo tratamento foi muito defendida por Trump em um tuíte de 21 de março em que citava um estudo muito pequeno de Raoult, que foi muito criticado por sua metodologia.