Os hospitais do Panamá estão sob ameaça de colapso com o explosivo crescimento de casos da COVID-19, com médicos esgotados pela intensa carga horária, no país de América Central com mais casos de contágios do novo coronavírus.
"O número de pacientes infectados por dia aumentou de maneira constante, até passar de 1.000 casos", afirmou à AFP David Villalobos, diretor da UTI do complexo hospitalar Arnulfo Arias Madrid, na Cidade do Panamá.
"Não há hospital que consiga atender esta quantidade", completou, depois de visitar os pacientes em estado crítico.
Com uma população de quatro milhões de habitantes, o Panamá passou de 200 contágios diários a mais de 1.100 nas últimas semanas.
O cenário forçou mudanças nos hospitais e a busca de novas instalações, como centros de convenções, em um sistema público de saúde com grandes carências.
"O temor do colapso do sistema público de nosso país é evidente caso persista o número de casos. Provavelmente não teremos espaços para leitos nas próximas duas semanas", advertiu Domingo Moreno, coordenador da Comissão Médica Nacional.
O Panamá registra até o momento 839 mortes e mais de 42.000 casos de COVID-19, o balanço mais grave de um país centro-americano.
De acordo com dados oficiais, quase 20.000 pessoas estão em isolamento domiciliar e em hotéis. Quase mil estão hospitalizadas, 158 delas em UTIs.
As autoridades calculam que de cada 100 infectados, 20 terminam em hospitais. No ritmo atual, significam mais de 200 entradas por dia, 50 deles em UTIs.
"É muito cansativo, às vezes temos que retornar à noite para fazer admissões (...) mas aqui estamos", conta a médica Giselle Sánchez, que atende os pacientes em estado grave. Como os colegas, ela trabalha em turnos de 12 horas.
Durante as últimas semanas médicos e enfermeiras organizaram protestos para exigir insumos e equipamentos de proteção.
O presidente do Panamá, Laurentino Cortizo, anunciou que o governo tenta organizar 4.000 testes diários para localizar e isolar os enfermos.
O ministro da Saúde, Luis Francisco Sucre, indicou que o governo detectou "um grupo importante de pessoas" que, apesar de saber que estão contagiadas, continuam saindo às ruas, o que dificulta o controle da pandemia.
"Dependemos diretamente do que a população pode fazer para prevenir nas ruas. Realmente a população deve entender que vamos entrar em colapso", advertiu Malena Urrutia, da equipe de coordenação sobre a COVID-19 do Arnulfo Arias.
"Como presidente, gostaria de afirmar que isto já passou. Mas não é assim. Ainda não temos uma vacina. A batalha continua", declarou Cortizo.