O laboratório Moderna, com sede nos Estados Unidos, anunciou nesta terça-feira (14) que sua vacina contra a COVID-19 provocou “robustos anticorpos neutralizantes” depois de duas imunizações. As aspas fazem parte de publicação científica feita pelo Jornal de Medicina da Nova Inglaterra.
O resultado positivo permite que a empresa avance para a fase 3 do cronograma, marcada para o próximo dia 27, quando 30 mil pessoas, todas moradoras dos EUA, devem servir de cobaias.
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A vacina da moderna usa o material genético do novo coronavírus, o chamado RNA, para induzir nosso organismo a produzir anticorpos para lutar contra o micro-organismo causador da COVID-19.
Segundo o infectologista Antônio Toledo Júnior, no entanto, é válido ressaltar que nenhuma dos imunizantes amplamente usados no mundo hoje foram desenvolvidos a partir desse método.
Nas fases 1 e 2 de testes da vacina do laboratório Moderna, 45 adultos saudáveis entre 18 e 55 anos receberam o imunizante.
Em todos eles, os pesquisadores encontraram anticorpos capazes de neutralizar o novo coronavírus. Eles receberam três doses do produto: uma mais leve, outra intermediária e uma última mais pesada.
Para a última fase, o laboratório optou por usar a dose intermediária, que contém 100 microgramas do imunizante. Todos os pacientes que passaram pelas fases 1 e 2 apresentaram reações à vacina, como dor de cabeça, mialgia, fadiga e dor no local de aplicação.
Para Antônio Toledo Júnior, no entanto, essas reações são esperadas.
“Como a lógica da vacina é estimular o sistema de defesa, então toda vacina pode resultar em efeito colateral. Mas isso é comum, porque é secundário em relação à ativação do sistema de defesa do corpo humano”, pontua o diretor da Sociedade Mineira de Infectologia.
Ressalva
Por outro lado, uma preocupação manifestada por Antônio Toledo Júnior diz respeito ao volume de pessoas a serem testadas pelo laboratório Moderna.
Isso porque os 30 mil habitantes analisados – a maioria deles de estados duramente atingidos pela doença, como Texas, Arizona e Carolina do Sul e do Norte – podem não ser a amostragem ideal.
“Esse número é bem grande. É uma realidade da COVID-19: apesar de ser uma doença grave, ela atinge um percentual pequeno da população. Quando você pega as vacinas chinesa e inglesa, eles (os pesquisadores) estão testando só em profissionais de saúde. Como essas pessoas têm maior chance de adoecer, eu preciso de uma amostragem menor para provar que meu produto funciona”, opina.
“Não adianta que vacinar um número grande de pessoas e elas terem um baixo risco de infecção (pelo novo coronavírus)”, completa.
Outras vacinas
Entre as dezenas vacinas contra a COVID-19 que estão em desenvolvimento no mundo, duas delas se destacam, além dessa do laboratório estadunidense: uma da Universidade Oxford, no Reino Unido; e outra da empresa farmacêutica Sinovac, da China.
Ambas estão na chamada fase 3 dos testes e usam brasileiros como cobaias para a tentativa de aprovação dos seus produtos.
Porém, elas têm diferenças em relação ao material do laboratório dos EUA, em relação ao método de produção.
O trabalho de Oxford se volta à chamada vacina de vetores virais. A partir do adenovírus de chimpanzé, obtém-se um adenovírus geneticamente modificado, que não pode ser replicado.
Esse micro-organismo carrega uma proteína do novo coronavírus, o que incita nosso corpo a produzir anticorpos.
É exatamente a mesma estratégia usada nos estudos para criação de uma vacina contra a dengue, explica o infectologista Antônio Toledo Júnior.
Já a pesquisa chinesa se concentra na chamada vacina de vírus. Os pesquisadores usam amostras do novo coronavírus inativadas, incapazes de causar a doença.
É a mesma estratégia adotada pelos imunizantes contra sarampo e poliomielite. O desafio? Provar a segurança dessa vacina.
Ações
Após anunciar os testes positivos com sua vacina e avançar para a fase 3, o laboratório Moderna, sediado nos EUA, viu suas ações dispararem na bolsa de valores.
No mercado de ações Nasdaq, a farmacêutica registrou alta de 4,54%. No horário comercial, o fechamento foi de 75,05 dólares: um reflexo da busca da humanidade por uma proteção contra a COVID-19.