Criticado pela esquerda e pela direita pela demora em combater a crise sanitária, Donald Trump procura desesperadamente uma maneira de se recuperar, embora pareça desarmado para enfrentar uma pandemia que não parece dar trégua.
"Excelentes notícias sobre vacinas", tuitou nesta quarta-feira, ansioso para virar a página da COVID-19, à medida que a votação de 3 de novembro se aproxima, quando buscará a reeleição.
A realidade, entretanto, não ajuda: o número de casos cresce em quase 40 dos 50 estados. A Califórnia, o mais populoso do país, anunciou na terça-feira o fechamento de parte de sua economia.
Com curvas de propagação de vírus muito diferentes das registradas na Europa, a situação nos Estados Unidos é avaliada como muito ruim. Trump tenta contornar a questão o máximo que pode.
Na terça-feira, durante uma coletiva de imprensa improvisada para denunciar a atitude da China e difamar seu rival democrata Joe Biden, ele fez pouca referência à política de seu governo de combater a pandemia de coronavírus.
Nesta quarta-feira, ele vai à Atlanta para fazer um discurso que se concentrará na modernização da infraestrutura do país.
Suas tentativas de desacreditar o renomado especialista em imunologia Anthony Fauci fracassaram. Fauci afirma sem rodeios que a estratégia do governo de combater o vírus não funciona.
Mesmo no campo republicano, exige-se uma abordagem séria da crise pelo presidente e seu círculo mais próximo, em vez de procurarem bodes expiatórios.
- Desorientação -
Desorientada, a Casa Branca tenta acalmar os ânimos.
Em uma coluna publicada terça-feira no USA Today, Peter Navarro, o principal consultor de Trump em assuntos comerciais, atacou Fauci severamente.
"Se me perguntarem se eu escuto os conselhos do Dr. Fauci, minha resposta é: apenas com cautela e ceticismo".
Em uma ação incomum, Alyssa Farah, diretora de comunicações da Casa Branca, postou um tuíte criticando o consultor, próximo ao presidente.
"A opinião de Peter Navarro não foi além das permissões normais da Casa Branca e é apenas a opinião dele. @RealDonaldTrump valoriza a experiência de profissionais médicos que aconselham o governo", afirmou.
Em meio à polêmica, o ex-presidente Barack Obama também usou a rede social para enviar uma mensagem, sem mencionar Trump: "Os dados mais recentes oferecem um lembrete trágico de que o vírus não se importa com discurso político ou ideologia, e que o melhor que podemos fazer por nossa economia é enfrentar nossa crise de saúde pública".
Enquanto isso, Joe Biden está satisfeito com uma campanha mínima e atualmente se beneficia da desorientação do governo.
Com bom desempenho nas pesquisas, mesmo em distritos republicanos, o candidato democrata denuncia a "falha de resposta" de Trump à crise da saúde e faz alterações em sua estratégia no mapa eleitoral.
Na terça-feira, ele emitiu um aviso de campanha no Texas, um estado que não vota em um candidato democrata à Casa Branca desde 1976 e onde as pesquisas o colocam, em média, em pé de igualdade com Trump.
O desconforto é sentido no campo republicano, onde um pesado silêncio se instalou.
Segundo a média nacional de pesquisas no nível nacional feita pelo site RealClearPolitics, Biden supera Trump em nove pontos percentuais.
Também é o primeiro em pelo menos cinco dos estados considerados essenciais para influenciar uma eleição: Arizona, Flórida, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin.