As autoridades catalãs pediram nesta sexta-feira (17) que os habitantes de Barcelona fiquem em casa e só saiam se for essencial, devido ao aumento de infecções por coronavírus que, se não for contido, pode levar ao confinamento domiciliar.
"Precisam ficar em casa sempre que não for essencial sair", disse a porta-voz do governo para esta região espanhola, Meritxell Budó, em entrevista coletiva.
Embora seja uma recomendação, dado que as autoridades regionais não podem restringir drasticamente a mobilidade, a porta-voz advertiu que é "a última chance" de evitar medidas mais rígidas.
"Somos forçados a recuar um passo para que não tenhamos que retornar nas próximas semanas ao confinamento total da população", disse Budó, que também pediu aos cidadãos que não se locomovam a outras regiões neste fim de semana.
A Espanha, um dos países mais afetados pela pandemia com mais de 28.400 mortes, impôs um severo confinamento em meados de março que reduziu significativamente a transmissão do coronavírus.
Desde o seu encerramento, em 21 de junho, o país enfrenta uma aceleração de infecções com mais de 150 surtos ativos, especialmente preocupantes nas regiões da Catalunha e Aragão.
O chamado ao confinamento "foi um balde de água fria", disse Karina Aro, profissional de turismo em Barcelona. Mas "na verdade eu já esperava porque houve falta de controle após o desconfinamento", acrescentou.
As medidas anunciadas nesta sexta-feira e rafiticadas pela justiça incluem a proibição de reuniões de mais de dez pessoas, a redução de 50% na capacidade de bares e restaurantes e o fechamento de locais de entretenimento, como teatros, cinemas e instalações esportivas.
A ordem passa a valer a partir de sábado às 09h00 e terá duração mínima de duas semanas.
Segundo o governo regional, as restrições afetam cerca de 4 milhões de pessoas, incluindo a região metropolitana de Barcelona,um dos mais importantes destinos turísticos europeus.
Na última semana, de acordo com dados do governo catalão, a cidade registrou 733 casos positivos por teste de diagnóstico PCR, contra 279 na semana anterior.
- "Voltaremos ao confinamento" -
"Está claro que, se isso não mudar, em quinze dias retornaremos ao confinamento", disse Joan Bernat, 46 anos, dono de um restaurante na região central perto da Catedral de Barcelona.
"Essas semanas não foram boas. Não apenas pelo turismo, o teletrabalho foi devastador porque não há ninguém nas empresas que precisem vir até aqui para comer. E também não há turismo. Você vai ao centro da cidade e é assustador, não há ninguém", diz.
O diretor do centro de emergências sanitárias, Fernando Simón, admitiu na quinta-feira que nessas duas regiões "há uma certa transmissão comunitária".
Mas os casos crescem no país como um todo. O balanço do Ministério da Saúde desta sexta-feira registrou 628 diagnósticos por PCR no dia anterior.
A Catalunha e posteriormente todas as regiões espanholas reforçaram a obrigação de usar máscara, sob pena de multa, mesmo quando a distância de segurança pode ser mantida.
Restrições como as aprovadas para Barcelona já haviam sido decretadas em três bairros da cidade vizinha de L'Hospitalet de Llobregat, em uma região de mais de 200.000 habitantes, em torno da cidade catalã de Lérida e em várias áreas de Aragão, incluindo Zaragoza, a quinta cidade mais populosa da Espanha.
Segundo o pesquisador do grupo BIOCOM da Universidade Politécnica da Catalunha, Daniel López Codina, a multiplicação de surtos nessa área "dificulta o rastreamento de contatos".
Além disso, a densidade populacional e sua interconexão com a Espanha e a Europa aumentam "a velocidade com que o vírus pode se espalhar" e "medidas vigorosas devem ser tomadas", disse à AFP.
O governo regional, muito criticado por não ter preparado bem o dispositivo de controle de epidemias, anunciou na quinta-feira a contratação de 500 pessoas para rastrear os contatos dos diagnosticados e facilitar o isolamento.