O cacique Raoni Metuktire, figura emblemática da resistência indígena no Brasil, foi transferido por avião para outro hospital neste sábado (18), informaram à AFP um de seus familiares e a ONG francesa Planète Amazone.
"Ele está sendo transferido para um hospital da cidade de Sinop", no Mato Grosso, declarou à AFP Gert-Peter Bruch, presidente da ONG, após conversar por telefone com Megaron Txucarramae, sobrinho do cacique.
Raoni "estaria sofrendo uma hemorragia no aparelho digestivo", completou Bruch, para quem o estado de saúde do líder indígena, antes "estável", "se deteriorou durante o dia".
Contudo, um neto de Raoni, Takakdjo Metuktire, afirmou por mensagem de voz enviada à AFP que seu avô "está bem" e confirmou a transferência do cacique para Sinop.
Raoni foi internado na quinta-feira em um hospital privado de Colíder, a 648 km de Cuiabá, no Mato Grosso, após apresentar um quadro febril, com diarreia e vômitos.
Segundo um médico citado pela Folha de São Paulo, o hospital de Sinop não possui a estrutura suficiente para exames complexos.
"Raoni está sofrendo uma hemorragia digestiva. Somente um diagnóstico mais preciso indicará onde está localizado o sangramento", explicou o doutor Eduardo Massahiro Ono.
- Afetado pela morte da esposa -
Os testes de detecção da COVID-19 realizados em Raoni deram negativo, segundo Bruch, cuja ONG organizou uma coleta de fundos para o povo Kayapó e coordena a campanha internacional do cacique.
O chefe da etnia Kayapó, com mais de 90 anos de idade, ficou debilitado após a morte da esposa, Bekwyjka, no fim de junho.
O falecimento da esposa, que esteve ao seu lado por mais de seis décadas e foi vítima de um derrame cerebral, "afetou muito o ânimo" do cacique Raoni, descreveu Bruch.
Famoso pelos coloridos cocares de plumas e o grande disco inserido no lábio inferior, Raoni viajou o mundo nas últimas décadas para aumentar a consciência sobre a ameaça que a destruição da Amazônia representa para os povos indígenas.
Desde que o presidente Jair Bolsonoro assumiu o poder, em janeiro de 2019, Raoni redobrou as denúncias de ataques contra os povos nativos do Brasil.
Em entrevista recente concedida à AFP, Raoni afirmou que Bolsonaro quer "se aproveitar" da pandemia para impulsionar projetos que ameaçam os povos indígenas, que têm um histórico de vulnerabilidade a doenças externas.
Mais de 16.000 indígenas foram contaminados e 535 morreram por causa do novo coronavírus no Brasil, segundo a Articulação de Povos Indígenas do Brasil (APIB). Os dados causam temor entre os cerca de 900.000 indígenas que vivem em diferentes regiões do Brasil.
Outro líder indígena emblemático do país, o chefe Paulinho Paiakan, morreu em junho depois de ser contaminado pela COVID-19.
Mais de dois milhões de pessoas foram contaminadas e mais de 77.000 faleceram de COVID-19 no Brasil.