O cacique Raoni Metuktire, figura emblemática da resistência indígena no Brasil e que está hospitalizado há dois dias, foi transferido neste sábado (18) por avião para um hospital mais bem equipado devido a um "agravamento de seu estado".
Pouco depois, o hospital para onde Raoni foi transferido informou que o cacique apresentou "sinais de melhora" com um aumento da pressão arterial, após receber primeiros cuidados.
"Ele apresentou hoje um agravamento do estado de saúde, com alta em sua anemia e uma degradação das funções renais (...) provavelmente devido a uma hemorragia digestiva", informou o hospital Santa Inês, da pequena cidade de Colíder, no Mato Grosso, onde o líder indígena, de 90 anos, havia sido internado na quinta-feira.
Como o hospital Santa Inês não possui unidade de cuidados intensivos, Raoni foi transferido com certa urgência para outro estabelecimento mato-grossense, na cidade de Sinop, como precaução para uma eventual piora do estado clínico.
Famoso no mundo todo pela incansável luta pelos direitos dos povos e das terras indígenas, Raoni foi internado na quinta-feira após apresentar um quadro febril, com diarreia e vômitos.
Maisa cedo, um neto de Raoni, Takakdjo Metuktire, afirmou por mensagem de voz enviada à AFP que seu avô "está bem" e confirmou a transferência do cacique para Sinop.
"Raoni está sofrendo uma hemorragia digestiva. Somente um diagnóstico mais preciso indicará onde está localizado o sangramento", havia explicado o doutor Eduardo Massahiro Ono, cirurgião-geral do hospital Santa Inês.
- Afetado pela morte da esposa -
Os testes de detecção da COVID-19 realizados em Raoni deram negativo, segundo Bruch, cuja ONG organizou uma coleta de fundos para o povo Kayapó e coordena a campanha internacional do cacique.
O chefe da etnia Kayapó, com mais de 90 anos de idade, ficou debilitado após a morte da esposa, Bekwyjka, no fim de junho.
O falecimento da esposa, que esteve ao seu lado por mais de seis décadas e foi vítima de um derrame cerebral, "afetou muito o ânimo" do cacique Raoni, descreveu Bruch.
Famoso pelos coloridos cocares de plumas e o grande disco inserido no lábio inferior, Raoni viajou o mundo nas últimas décadas para aumentar a consciência sobre a ameaça que a destruição da Amazônia representa para os povos indígenas.
Desde que o presidente Jair Bolsonoro assumiu o poder, em janeiro de 2019, Raoni redobrou as denúncias de ataques contra os povos nativos do Brasil.
Em entrevista recente concedida à AFP, Raoni afirmou que Bolsonaro quer "se aproveitar" da pandemia para impulsionar projetos que ameaçam os povos indígenas, que têm um histórico de vulnerabilidade a doenças externas.
Mais de 16.000 indígenas foram contaminados e 535 morreram por causa do novo coronavírus no Brasil, segundo a Articulação de Povos Indígenas do Brasil (APIB). Os dados causam temor entre os cerca de 900.000 indígenas que vivem em diferentes regiões do Brasil.
Outro líder indígena emblemático do país, o chefe Paulinho Paiakan, morreu em junho depois de ser contaminado pela COVID-19.
Mais de dois milhões de pessoas foram contaminadas e mais de 77.000 faleceram de COVID-19 no Brasil.