Em quase 40 anos, os fundos de pensão privados do Chile acumularam US$ 200,97 bilhões, o equivalente a 80% do PIB chileno. Os recursos tiveram um enorme poder para impulsionar os mercados de capitais, mas nem tanto para pagar boas pensões.
Os Administradores de Fundos de Pensões somam 10,9 milhões de membros, ainda que quase metade sejam contas ativas. O sistema de capitalização foi criado em 1981, durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), como o primeiro modelo totalmente individual.
Em junho, a pensão média concedida era de 195 mil pesos (US$ 250), quase 40% abaixo do salário mínimo chileno e muito longe da promessa de pagar 100% do último salário em 2020. Isso mesmo nos casos dos trabalhadores mais beneficiados, que se aposentam com 30% a 40% de suas remunerações.
Nesse cenário, como resultado da discordância dos setores de renda média com as medidas do governo Sebastián Piñera para ajudá-los durante a crise do coronavírus, está prestes a ser aprovada no Congresso uma lei que permite a retirada excepcional de 10% dos fundos economizados. A iniciativa foi promovida pela oposição e conta com amplo apoio popular.
A medida permite que os trabalhadores retirem entre 1 milhão e 4,3 milhões de pesos (US$ 1.250 a US$ 5.400). Quem acumulou menos que o mínimo poderá sacar todo o dinheiro. Segundo as estimativas oficiais, sairiam do sistema de pensões entre US$ 17 e 20 bilhões.
Para Marco Kremerman, economista da Fundación Sol, se a liquidação de ativos dos fundos for feita de maneira "gradual, coordenada e auditada", não deve gerar grandes perturbações no mercado financeiro. Cinquenta e cinco por cento desses recursos são investidos no Chile, principalmente na dívida pública e em instituições bancárias, enquanto 45% estão no exterior.
"O sistema serviu para impulsionar o mercado de capitais, mas não para pagar boas pensões", afirma Kremerman.
Quanto ao impacto da medida nas pensões, estima-se que o montante mensal diminua entre 5% e 10%. Uma análise da empresa de consultoria previdenciária Ciedess, no entanto, diz que, se a lei for aprovada, quase três milhões de pessoas poderão retirar todos os seus fundos de pensão, ficando com uma economia zerada no futuro.