A China lançou com sucesso, nesta quinta-feira (23), sua primeira sonda independente para Marte, uma missão durante a qual espera usar um robô para estudar o solo do Planeta Vermelho e que acontece em plena rivalidade diplomática e tecnológica com os Estados Unidos.
A sonda foi lançada por um foguete Longa Marcha 5, que decolou da base de Wenchang, na ilha chinesa de Hainan (sul).
Sob uma temperatura de 34ºC, os engenheiros e funcionários de uniforme azul celebraram o lançamento com palmas. A agência especial confirmou a empreitada bem-sucedida meia hora depois.
A sonda deve fazer em sete meses o longo trajeto Terra-Marte, chegando em fevereiro de 2021 ao campo gravitacional marciano. A distância varia, mas o mínimo é de 55 milhões de quilômetros, ou seja, 1.400 vezes a volta ao mundo.
A missão Tianwen-1 ("Perguntas ao céu-1") leva uma sonda composta por três elementos: um orbitador de observação, que girará em torno do Planeta Vermelho, um módulo de aterrissagem e um robô por controle remoto, encarregado de analisar o solo marciano.
"Isso é, claramente, um marco para a China. É a primeira vez que se aventuram no sistema solar", disse à AFP o astrônomo Jonathan Mcdowell, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, nos Estados Unidos.
- "Orgulho nacional" -
Esta missão oferece um novo prestígio a Pequim frente a Washington, que acaba de ordenar o fechamento do consulado chinês em Houston, o último episódio da intensa rivalidade entre os dois gigantes do Pacífico.
Tianwen-1 é "similar às missões americanas Viking dos anos 1975-1976", em termos de "escala e ambição", declarou McDowell.
O gigante asiático não é o único que quer enviar uma sonda a Marte. Os Emirados Árabes Unidos lançaram sua "Esperança" na segunda-feira, e os Estados Unidos enviarão "Marte 2020" em 30 de julho.
Todos tentam se beneficiar da atual distância reduzida entre a Terra e o Planeta Vermelho.
"A exploração espacial é uma fonte de orgulho nacional. A ambição também é melhorar o conhecimento da humanidade sobre Marte", declarou o especialista em espaço Carter Palmer, da empresa americana Forecast International.
Longe da competição espacial feroz entre Estados Unidos e União Soviética durante a Guerra Fria, o país asiático recupera terreno.
Enviou seu primeiro homem ao espaço em 2003, fez pequenos robôs (os "coelhos de jade") pousarem na Lua em 2013 e em 2019 e acaba de terminar, em junho, a constelação de satélites de seu sistema de navegação Beidu, rival do GPS americano.
- Mudança significativa na conquista do espaço -
A missão em Marte é a próxima grande etapa do programa chinês, que também prevê a construção de uma estação espacial em 2022.
"O fato de a China se juntar à conquista de Marte mudará a situação atual, dominada pelos Estados Unidos há meio século", destaca Chen Lan, analista do site Gotaikonauts.com, especializado no programa espacial chinês.
De acordo com especialistas, a experiência da China na Lua será muito útil para sua missão em Marte.
De fato, das 40 missões soviéticas, americanas, europeias, japonesas, ou indianas, lançadas ao Planeta Vermelho desde 1960, a maioria fracassou.
Em 2011, a China tentou conquistar Marte com sua sonda Yingho-1, acoplada a uma nave russa, que acabou sofrendo um colapso.
"Se (a nova sonda) aterrissar de forma segura na superfície marciana e devolver a primeira imagem, Tianwen-1 já será um sucesso", afirma Chen Lan.
O governo chinês é prudente, após acumular vários fracassos em 2020, com tentativas frustradas de lançamento e a desintegração de uma cápsula espacial em seu retorno para a Terra.
"Os riscos e as dificuldades são consideráveis", em particular o perigoso pouso em Marte, aponta Liu Tongjie, porta-voz da missão Tianwen-1.
"Mas também estamos muito confiantes. É 50-50", comentou Chen Lan.
"A China pode fracassar desta vez, mas algum dia vai conseguir. Porque tem vontade, determinação e suficientes recursos financeiros e humanos para ser bem-sucedida", completou.