Um estudo publicado nesta quinta-feira (23) sobre o uso da hidroxicloroquina no Brasil para tratar a COVID-19 concluiu que o medicamento é ineficaz contra a doença, contradizendo o presidente Jair Bolsonaro, que defende seu uso há meses.
O teste clínico, realizado em 55 hospitais do país e publicado no New England Journal of Medicine, consistiu em comprovar se a hidroxicloroquina melhorava a saúde dos pacientes com casos leves e moderados da COVID-19 sozinha ou combinada com o antibiótico azitromicina.
O governo brasileiro recomenda desde maio que médicos do sistema público de saúde prescrevam hidroxicloroquina ou cloroquina, um remédio similar usado contra a malária, junto com a azitromicina para tratar doentes com COVID-19.
Assim como seu colega americano, Donald Trump, de que é admirador, Bolsonaro defende o uso da hidroxicloroquina contra a doença.
O presidente afirma tomar o medicamento após ter se infectado com o novo coronavírus este mês.
Vários testes controlados randomizados, considerados a forma mais confiável de pesquisa científica, concluíram que o medicamento é ineficaz para tratar a COVID-19 e pode provocar efeitos colaterais nocivos para a saúde.
O teste feito no Brasil chegou à mesma conclusão. Com quase 212 milhões de habitantes, o país se tornou o maior laboratório de testes de medicamentos contra o novo coronavírus, devido em parte à política do governo Bolsonaro.
"Entre os pacientes hospitalizados com COVID-19 entre leve e moderada, o uso de hidroxicloroquina, sozinha ou com azitromicina, não melhorou a situação clínica após 15 dias, em comparação com cuidados habituais", diz o estudo realizado por cientistas da chamada Coalizão COVID-19 Brasil.
Entre os membros deste grupo estão dois institutos de pesquisa e seis hospitais, incluindo o Albert Einstein de São Paulo, considerado um dos melhores da América Latina.
O estudo, feito com 667 pacientes, permitiu comprovar que quem recebeu hidroxicloroquina desenvolveu marcadores clínicos que aumentaram o risco de padecer de problemas cardíacos ou hepáticos.
Os autores admitiram, no entanto, que o estudo tenha várias limitações, como o fato de não ser "cego", ou seja, que pacientes e médicos sabiam quem fazia parte do grupo de controle e quem recebeu o tratamento.
"O teste não pode descartar definitivamente um benefício significativo do medicamento testado, nem um dano substancial", indicaram seus autores.