Jornal Estado de Minas

China responde a Washington e fecha consulado americano

O governo chinês ordenou, nesta sexta-feira (24), o fechamento do consulado dos Estados Unidos na cidade de Chengdu (sudoeste), três dias depois que Washington decidiu fechar o consulado da China em Houston, sob acusação de espionagem.

A resposta de Pequim provocou a queda das Bolsas chinesas nesta sexta: Hong Kong cedeu 2,19%; Xangai, 3,9%; e Shenzhen, 5%.





Essa decisão constitui "uma resposta legítima e necessária às medidas irracionais dos Estados Unidos", afirmou o Ministério chinês das Relações Exteriores em um comunicado, sem informar se houve acusações específicas contra a missão dos EUA em Chengdu.

"Alguns funcionários do consulado dos Estados Unidos de Chengdu se dedicaram a atividades que vão além de suas funções, intrometendo-se nos assuntos internos da China, e puseram em perigo a segurança e os interesses chineses", acusou o porta-voz do Ministério, Wang Wenbin, em declarações à imprensa.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse na quinta-feira que o consulado chinês em Houston era "um centro de espionagem chinesa" e de "roubo de propriedade intelectual".

A sanção dos Estados Unidos foi anunciada algumas horas depois do indiciamento de dois cidadãos chineses acusados de ciberpirataria. Eles são acusados de tentarem espionar as pesquisas americanas sobre uma vacina para a COVID-19.





- Ingerência nos assuntos domésticos

O Ministério chinês não especifica quando a representação diplomática será fechada. No caso de Houston, o governo Donald Trump deu aos diplomatas chineses 72 horas para saírem.

"A situação atual nas relações sino-americanas não corresponde aos desejos da China, e os Estados Unidos são inteiramente responsáveis por isso", denunciou o governo chinês, pedindo a Washington que "crie as condições necessárias para que as relações bilaterais voltem à normalidade".

O governo chinês já havia anunciado retaliação contra o fechamento de seu consulado na cidade do Texas (sul).

A reação chinesa parece, no entanto, relativamente moderada: nas redes sociais, nacionalistas chineses pediram ao regime comunista que fechasse o consulado de Estados Unidos em Hong Kong, consideravelmente maior e mais estratégico do que o de Chengdu.

"Por ora, parece que a China escolheu uma resposta gradual, em vez de uma reação que provocaria uma resposta americana", comentou o sinólogo Victor Shih, da Universidade da Califórnia em San Diego.

A tensão entre a China e os Estados Unidos, já alimentada por disputas comerciais e por acusações mútuas sobre a origem da pandemia da COVID-19, aumentou nas últimas semanas com a imposição, por parte de Pequim, de uma lei de segurança nacional em Hong Kong.





Washington considerou que essa lei destrói a autonomia da antiga colônia britânica e tomou medidas de retaliação econômica contra a região autônoma chinesa.

Em outro ponto de conflito, os Estados Unidos acusam Pequim de violação dos direitos humanos contra a etnia muçulmana uigur em Xinjiang, uma vasta região do noroeste da China.

Pequim denunciou uma ingerência em seus assuntos internos.

- "Nova tirania" -

Aumentando a pressão, Pompeo pediu na quinta-feira às "nações livres" do mundo que se comprometam a triunfar sobre a ameaça do que ele considerou uma "nova tirania" pela gigante asiática.

"Hoje a China é cada vez mais autoritária em seu país e mais agressiva em sua hostilidade à liberdade em qualquer outro lugar", disse Pompeo em um discurso, cujo tom lembrou, mais do que nunca, a Guerra Fria com a União Soviética.

Em um ataque de rara virulência contra o presidente de uma das maiores potências do mundo, ele também acusou Xi Jinping de ser um "fiel defensor de uma ideologia totalitária falida", referindo-se unicamente às suas funções como "secretário-geral" do Partido Comunista da China (PCCh).

As autoridades dos Estados Unidos suspeitam de que uma cidadã chinesa, acusada de esconder seus laços com o Exército de seu país para obter um visto, esteja refugiada no consulado chinês em San Francisco para evitar ser preso.

Além da embaixada em Pequim, os Estados Unidos têm cinco consulados na China continental (Cantão, Xangai, Shenyang, Chengdu, Wuhan) e um em Hong Kong.

O de Chengdu, inaugurado em 1985, cobre o sudoeste da China, incluindo a Região Autônoma do Tibete. Segundo o site, ele tem 200 funcionários, dos quais 150 têm status local.