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Estado de Minas

'Não esquecemos', dizem kuwaitianos e iraquianos 30 anos após a Guerra do Golfo


31/07/2020 07:13

Há 30 anos, Saddam Hussein proclamou o Kuwait a "19ª província" do Iraque. Seus adversários, hoje no poder em Bagdá, afiançaram os vínculos com este vizinho estratégico. Mas, entre os cidadãos dos dois países, as feridas da Guerra do Golfo ainda estão abertas.

De Bagdá a Basra, de Kirkuk à Babilônia, os iraquianos são unânimes: a invasão, em 2 de agosto de 1990, e a ocupação concluída em 2 de março do ano seguinte por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, "selaram o início do fim".

"Nos tornamos malditos depois da invasão do Kuwait, não tivemos mais um único dia de tranquilidade", diz Um Sarah, professora aposentada em Bagdá. Ela enumera os motivos: embargo, invasão americana, guerra civil, violência religiosa e ataques jihadistas...

Tudo começou quatro dias depois da entrada das tropas iraquianas no Kuwait. A ONU decretou um embargo do qual os iraquianos só vão sair com outra invasão: a dos americanos ao seu país em 2003.

Durante este bloqueio, o dinar iraquiano, que valia três dólares, se dividiu por 9.000.

O salário de Khassem Mohammed, professor em Kut (sul), não valia na época mais que o preço de um frango no mercado. Então, em alguns dias, "comíamos até mesmo o feno dos animais", relembra Yasser Saffar, de 44 anos.

- Perda de status e corrupção -

Sobretudo, continua Mohammed, "o embargo mudou as mentalidades" das pessoas e abriu as portas para a corrupção, hoje endêmica no Iraque, onde os funcionários públicos alegam baixos salários para pedir propinas.

Hisham Mohammed assistiu à perda de status social de seu pai, um rico importador de materiais de construção. "Com o embargo, nenhum produto entrava mais e todo o seu capital, 100.000 dinares, não valia mais nada", relata à AFP este homem de 50 anos, natural de Bagdá.

A classe média desapareceu e outras camadas da população prosperaram: os defensores do "sistema D", que sabem fazer durar até mesmo um pneu furado, fazem o motor funcionar mesmo sem peças de reposição, que vendem a preço de ouro lâmpadas de óleo para as longas horas de cortes de energia elétrica, os que remendavam as roupas pela enésima vez.

O exército perdeu tudo sob as lentes das câmeras do mundo inteiro, que cobriram a operação "Tempestade do Deserto", a primeira guerra transmitida ao vivo.

Sarmad al-Bayati, oficial na época da invasão do Kuwait, viu soldados voltando a pé ao Iraque. E, uma vez no país, "eles faziam pequenos trabalhos durante suas licenças para chegar ao fim do mês".

E enquanto o Iraque mergulhava no marasmo, o Kuwait prosperava.

No emirado, enquanto isso, várias famílias ainda choram seus mortos e desaparecidos, os ex-prisioneiros falam sempre das torturas que sofreram e, no ano passado, corpos encontrados em valas comuns no sul do Iraque foram levados de volta ao Kuwait.

Durante anos, a família de Ahmed Qabazard, uma das figuras da "resistência" kuwaitiana, torturado e depois executado, fez de sua casa, em parte destruída pelos iraquianos, um pequeno museu dos horrores da ocupação.

Hoje, a casa foi reconstruída, mas sua filha, Shuruq, admite à AFP que "ainda lhe custa ter claros os sentimentos a respeito dos iraquianos". Mesmo que, "com o passar do tempo, descobrimos que eles sofreram como nós com a tirania de Saddam Hussein".

Ghida al-Amer diz ter se sentido feliz com a queda do ditador em 2003. Durante a invasão, suas tropas "enforcaram com um fio de eletricidade" sua irmã, que havia preparado explosivos para a "resistência".

- Dívidas -

Casas destruídas, familiares desaparecidos ou presos, empresas apreendidas: o Kuwait avaliou suas perdas e a ONU apresentou a conta ao Iraque, alvo de sanções da organização até 2010.

Em 30 anos, Bagdá pagou 43,6 bilhões de euros. E o país, que atravessa a pior crise econômica de sua história, ainda deve 3,3 bilhões de euros.

As relações levaram 20 anos para ser restabelecidas. Em 2018, o Kuwait sediou uma conferência para reconstruir o Iraque e foi o primeiro a contribuir, com dois bilhões de dólares.

Mas as divergências permanecem: Bagdá reconheceu a fronteira terrestre demarcada em 1993 pela ONU, mas considera que sua fronteira marítima bloqueia seu acesso ao Golfo, vital para a sua economia. Regularmente, a marinha kuwaitiana detém pescadores iraquianos.

Quanto aos desaparecidos, mil de cada lado, apenas 215 restos mortais de kuwaitianos e 85 de iraquianos foram entregues, segundo a Cruz Vermelha.

"Nós podemos perdoar, mas é impossível esquecer a invasão", diz Shuruq Qabazard. "Foi o evento mais importante de toda a minha geração".


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