Duas violentas explosões registradas no porto de Beirute nesta terça-feira (4) deixaram ao menos 73 mortos e 3.700 feridos, segundo um balanço atualizado do ministério da Saúde libanês.
Trata-se de um balanço provisório, segundo o porta-voz do ministério, Reza Moussaoui. A contagem anterior era de 50 mortos e 2.750 feridos.
Beirute foi declarada "zona de desastre", anunciou o Conselho Superior de Defesa Libanês.
"É uma catástrofe em todos os sentidos do termo", lamentou mais cedo o ministro da Saúde, Hamad Hassan, em declarações a várias emissoras de televisão após visitar um hospital na capital libanesa.
"Os hospitais da capital estão todos cheios de feridos", acrescentou, pedindo que as outras vítimas sejam levadas para estabelecimentos nos arredores da cidade.
Antes, o diretor da Segurança Geral, Abbas Ibrahim, havia dito que as explosões poderiam ter sido causadas por "materiais altamente explosivos confiscados há anos", mas acrescentou que uma investigação determinará a "natureza exata do incidente".
No entanto, os responsáveis terão que "prestar contas", disse o primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, que pediu ajuda aos "países amigos" do Líbano.
"Faço um apelo urgente a todos os países amigos e irmãos que amam o Líbano que se coloquem do nosso lado e nos ajudem a curar nossas feridas profundas", acrescentou.
Governos de Israel, França e Estados Unidos ofereceram assistência.
O presidente francês, Emmanuel Macron, telefonou para o colega libanês e anunciou o envio de ajuda.
"Ele expressou seu apoio e o apoio da França ao povo libanês", informou o palácio do Eliseu, sede do Executivo francês.
"Ajuda e recursos franceses estão a caminho", acrescentou a fonte, sem dar maiores detalhes.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, ofereceu ajuda dos Estados Unidos.
"Estamos monitorando [a situação] e estamos prontos para ajudar o povo do Líbano enquanto se recupera desta terrível tragédia", escreveu Pompeo no Twitter.
Pompeo disse que os Estados Unidos esperam as conclusões das autoridades libanesas sobre as causas das explosões, que além das vítimas, arrasaram o porto da cidade.
"Nossa equipe em Beirute me informou dos grandes danos causados a uma cidade e a um povo que aprecio muito, um desafio adicional em um momento de crise já profunda", acrescentou Pompeo.
A embaixada dos Estados Unidos em Beirute alertou os americanos residentes na cidade a buscarem refúgio.
"Há informes de gases tóxicos liberados na explosão, razão pela qual todos os que estão na zona devem permanecer no interior e usar máscaras se houver disponíveis", destacou em um alerta de segurança.
Segundo o ministério alemão das Relações Exteriores, as explosões teriam deixado feridos funcionários da embaixada alemã na cidade.
"Não podemos no momento excluir que cidadãos alemães estejam entre os mortos e feridos", informou o ministério.
Vídeos transmitidos nas redes sociais mostraram uma primeira explosão seguida por outra que causou uma gigantesca nuvem de fumaça.
As deflagrações sacudiram os edifícios vizinhos e fizeram com que vidros se quebrassem em um raio de vários quilômetros de distância.
O primeiro-ministro decretou um dia de luto nacional para a quarta-feira.
"É uma catástrofe. Existem corpos no chão. Ambulâncias estão pegando os corpos", disse à AFP um soldado próximo ao porto.
A imprensa local divulgou imagens de pessoas presas nos escombros, algumas cobertas de sangue.
"Pareceu um terremoto e, em seguida, uma grande deflagração e os vidros quebraram", contou à AFP uma libanesa no centro de Beirute.
Um navio atracado no porto estava em chamas, constataram jornalistas da AFP. Um oficial pediu a jornalistas que se afastassem do setor, temendo a explosão do combustível do navio.
Soldados da missão da ONU no Líbano (Finul), cujo navio estava ancorado no porto, ficaram gravemente feridos, anunciou a Finul na noite desta terça.
Os marinheiros feridos, "alguns dos quais gravemente", foram evacuados para "os hospitais mais próximos". Não foram dadas informações sobre a identidade e a nacionalidade das vítimas.
"Estamos com o povo e o governo libanês (...) e dispostos a dar assistência", acrescentou a Finul, força multinacional de manutenção da paz presente no Líbano desde 1978.
- "Arremessados" -
O setor portuário foi isolado pelas forças de segurança, que só permitem a passagem da Defesa Civil, de ambulâncias e dos bombeiros, constataram jornalistas da AFP na entrada do porto.
Nos arredores, há muitos danos e destruição.
Duas horas após a explosão, chamas ainda podiam ser vistas na área. Um helicóptero carregava água do mar para apagar os incêndios.
"Vimos um pouco de fumaça e depois uma explosão. E então um cogumelo (de fumaça). A força das explosões nos arremessou para dentro do apartamento", diz um morador do bairro Manssouriyeh, que viu a explosão de sua varanda, a vários quilômetros do porto.
Após as explosões, muitos moradores, alguns deles feridos, andavam pelas ruas em direção aos hospitais.
Em frente ao centro médico de Clémenceau, dezenas de feridos, incluindo crianças cobertas de sangue, aguardavam atendimento, constatou um jornalista da AFP.
Quase todas as vitrines das lojas dos bairros Hamra, Badaro e Hazmieh estouraram, assim como os vidros dos carros. Nas ruas havia veículos abandonados com airbags acionados.
Segundo testemunhas, as deflagrações foram ouvidas até mesmo na cidade costeira de Larnaca, no Chipre, a mais de 200 km da costa libanesa.
Em 14 de fevereiro de 2005, um atentado realizado com uma van cheia de explosivos foi perpetrado contra o comboio do então primeiro-ministro Rafic Hariri, matando 21 pessoas e deixando mais de 200 feridos.
A deflagração provocou chamas com vários metros de altura e quebrou as janelas de prédios localizados em um raio de meio quilômetro.
Na sexta-feira, o Tribunal Especial do Líbano (TSL), com sede na Holanda, planeja anunciar o veredicto após o julgamento de quatro homens, todos suspeitos de serem membros do poderoso movimento libanês Hezbollah, acusado de ter participado do assassinato de Rafic Hariri.
O Líbano passa pela pior crise econômica em décadas, marcada por uma depreciação cambial sem precedentes, hiperinflação e demissões em massa que alimentam a agitação social há vários meses.