Jornal Estado de Minas

Eleições

Unidade à prova nos EUA

Rodrigo Craveiro

A ideia inicial era reunir 50 mil pessoas em Milwaukee para a tradicional festa que começará hoje e terá fim na próxima sexta-feira. Os planos mudaram, mas não a proposta do Partido Democrata de reforçar a unidade, a pouco menos de três semanas das eleições de 3 de novembro. O novo coronavírus – que infectou 5,2 milhões de norte-americanos e matou 167 mil (1 mil deles no estado de Wisconsin) – impôs o formato virtual à Convenção Nacional Democrata. O evento, que contará com pouco mais de 300 pessoas, apostará em nomes de peso e na motivação de impedir o segundo mandato de Donald Trump, a quem muitos democratas culpam pela crise econômica provocada pela pandemia.




(foto: David Ganivon/AFP %u2013 25/2/20)
 
O ex-presidente Barack Obama, uma das estrelas, discursará em horário nobre na quarta-feira. Michelle Obama, por sua vez, subirá ao púlpito amanhã à noite. Além de uma oportunidade para Joe Biden e a senadora Kamala Harris apresentarem suas propostas à nação e serem ungidos oficialmente como candidatos, a convenção será o palco para nomes de peso do partido. Entre os democratas que discursarão, estão os senadores Bernie Sanders, Amy Klobuchar e Elizabeth Warren; o casal Bill e Hlillary Clinton; as deputadas Nancy Pelosi e Alexandria Ocasio-Cortez.
 
(foto: Mark Ralston/AFP %u2013 1/3/20)
Professor de governo da Universidade de Wisconsin-Milwaukee, Thomas Holbrook afirmou ao Estado de Minas que o Partido Democrata sempre tem mais dificuldades em expor unidade do que os republicanos. Ele lembra que, durante a campanha de 2016, a ala progressista chegou a expressar forte descontentamento com a escolha por Hillary Clinton. “Não creio que será grande problema neste ano, pois muitas lideranças progressistas enfatizaram a importância em derrotar Trump. Muitos dos eleitores que negaram apoio à Hillary, quatro anos atrás, aprenderam uma importante lição sobre unidade partidária. Ao mesmo tempo, Joe Biden saiu da zona de conforto para conquistar o voto progressista”, opinou.
 
Holbrook admite que a Convenção Nacional Democrata deste ano será “incomum”. Ele reconhece que, sem a interação entre palestrantes e o entusiasmo da multidão de militantes, os discursos podem não ser tão interessantes quanto dos últimos eventos. “Mas os democratas ainda têm oportunidade de dominar o ciclo de notícias durante os quatro dias da convenção. Isso e a atenção dada à escolha de Kamala como companheira de chapa de Biden oferecem à campanha democrata a oportunidade de definir a agenda para a reta final.”




O Centro de eventos de Wisconsin em Milwaukee recebe a partir de hoje parte dos delegados democratas numa reunião virtual (foto: Bryan R. Smith/AFP)

Empenho De acordo com Kelly Ditmar, cientista política da Universidade Rutgers (em Nova Jersey), as convenções do partido são quase sempre palcos para enfatizar a unidade partidária antes das eleições. “Este ano não será diferente. Desde há muito tempo, o Partido Democrata apresenta os mesmos problemas em relação à unidade. Derrotar Donald Trump oferece uma motivação muito unificadora entre os militantes que possam ter discordâncias em outros pontos”, admitiu ao Correio. Também professora do Departamento de Ciência Política da Universidade de Wisconsin-Milwaukee, Kathleen Dolan aposta que a convenção será uma oportunidade valiosa para os eleitores interessados em escutar as crenças e os objetivos do Partido Democrata. “Eles estarão expostos a muitos candidatos e governantes democratas. O evento tende a mostrar um partido bastante diverso em termos de raça e gênero”, disse à reportagem.
 
Presidente do Grupo Oxford, a maior empresa de consultoria brasileira nos EUA, Carlo Barbieri acredita que os democratas demonstrarão grande unidade a partir da convenção. “Se essa unanimidade obtida na quinta-feira será aplicada na práttica, isso dependerá muito dos próximos movimentos do partido. O grande desafio de Biden é conseguir que uma legenda de quase 40 divisões consiga motivar aquela fatia não contemplada pela chapa eleitoral a votar. Daí o empenho em se buscar votos pelos correios, pois é um meio mais fácil de as pessoas se manifestarem”, afirmou. Barbieri explica que o Partido Democrata tem grande capacidade de articulação no corpo-a-corpo, além de uma equipe financeiramente forte, com o apoio de Bill Gates e de conglomerados para buscar o voto independente.
 
“A convenção é um momento no qual o partido tem quatro dias de cobertura total da mídia para apresentar os candidatos à Casa Branca”, frisou David Redlawsk, cientista político da Universidade de Delaware. Os democratas claramente destacarão a unidade na convenção, e o que lhes é importante como um partido. “Para a maioria dos opositores de Trump, eles já estavam unidos. Mesmo entre aqueles mais à esquerda do que Biden ou Kamala, a opção é votar pelo partido ou permitir a reeleição do republicano. À exceção de alguns poucos, acho que a maioria na esquerda votará em Biden, ao invés de um terceiro partido ou de ficar em casa. Eles estarão principalmente unidos em oposição a Trump”, apostou.












 No palco da convenção

Os principais nomes da 
festa virtual democrata

» Hoje
» Amy Klobuchar, senadora
» Andrew Cuomo, governador de Nova York
» Bernie Sanders, senador
» Michelle Obama, ex-primeira-dama

» Amanhã
» Chuck Schumer, líder da minoria no Senado
» John Kerry, ex-secretário de Estado
» Alexandria Ocasio-Cortez, deputada
» Bill Clinton, ex-presidente dos EUA
» Jill Biden, mulher de Joe Biden

» Quarta-feira
» Elizabeth Warren, senadora
» Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes
» Hillary Clinton, ex-secretária de Estado
» Kamala Harris, candidata a vice-presidente dos EUA
» Barack Obama, ex-presidente dos EUA

» Quinta-feira
» Família Biden
» Joe Biden, candidato a presidente dos Estados Unidos