O candidato democrata à Presidência dos EUA, Joe Biden, viajará nesta quinta-feira (3) para Kenosha, palco de protestos e de tumultos depois que a polícia feriu gravemente o afro-americano Jacob Blake - anunciou sua equipe de campanha, um dia após Donald Trump ir à cidade.
Em seu compromisso na cidade, o candidato democrata visitará a família de Blake, um homem negro atingido por tiros de um policial branco há dez dias.
A viagem, a segunda oficial depois de meses de extrema cautela fazendo campanha em Wilmington, Delaware (nordeste), por causa da pandemia do novo coronavírus, é um sinal de que o ex-vice-presidente dos Estados Unidos está finalmente fincando os pés no chão.
"Trata-se de garantir que continuemos avançando", disse Biden a repórteres em Wilmington nesta quarta-feira (2), ao especificar os objetivos da viagem.
"Temos que curar, unir as pessoas. Então meu propósito ao ir será exatamente esse. Ser uma influência positiva em meio ao que está acontecendo", explicou ele, em sua primeira entrevista a jornalistas depois de semanas.
Trump, de 74 anos, que multiplica os comícios a dois meses das eleições, marcadas para 3 de novembro, brinca com a falta de "energia" de Biden, de 77 anos.
Foi após consultar seus assessores médicos que o ex-vice-presidente de Barack Obama decidiu visitar Kenosha na quinta-feira.
Essa cidade costeira do Lago Michigan registrou noites de manifestações na semana passada depois que Jacob Blake, um homem negro de 29 anos, foi gravemente ferido por disparos de um policial branco em uma cena filmada por testemunhas. Tudo aconteceu sob o olhar dos três filhos de Blake, que segue internado desde então com a parte inferior do corpo paralisada.
O incidente gerou protestos contra o racismo e a brutalidade policial desencadeados após a morte de George Floyd, outro cidadão negro, em 25 de maio, sufocado por um policial branco.
Biden se reunirá com os cidadãos de Kenosha (Wisconsin), garantiu sua equipe de campanha.
Sua esposa, Jill Biden, viajará com o candidato e os dois farão uma "parada local" em outro local em Wisconsin, embora não tenham indicado o local exato.
- Violência crescente -
Espera-se que Wisconsin desempenhe um papel crucial na eleição presidencial de 3 de novembro.
O republicano Trump, que venceu de surpresa naquele estado na eleição de 2016, visitou Kenosha na terça-feira apesar dos avisos do prefeito da cidade e do governador do estado, ambos democratas, que temiam um aumento nos protestos.
Em seu comício, Trump ressaltou o lema "lei e ordem". Durante sua visita a Kenosha, ele também o repetiu para verificar os danos causados durante os protestos, que chamou de "terrorismo doméstico". Ele também agradeceu à polícia por seu trabalho, tudo sem nomear Jacob Blake.
Quando questionado se sua visita a Kenosha representava o risco de retomada dos protestos, Biden respondeu que havia consultado os líderes locais, que o informaram que há "uma série de pedidos" para que ele visite a cidade.
As manifestações em Kenosha tiveram início pacífico na noite em que Blake foi baleado, mas então houve tumultos e confrontos com grupos armados formados por brancos da extrema-direita.
A tensão atingiu o clímax em 25 de agosto, quando duas pessoas foram mortas a tiros e mais uma foi ferida. Kyle Rittenhouse, um jovem branco de 17 anos e simpatizante de Trump e das milícias, foi preso e acusado de assassinato.
O presidente se recusou a comentar sobre a presença crescente de grupos armados e seus respectivos assassinatos, referindo-se às acusações contra Rittenhouse como uma "situação interessante".
Ele também não se encontrou com a família de Blake, que sobreviveu, mas pode ficar paralisado para o resto da vida.
- "Incendiar não é protestar" -
Trump acusou Biden de tolerar a violência, forçando o ex-vice-presidente a criticar duramente os protestos durante um discurso feito na segunda-feira em Pittsburgh, (em outro estado importante, a Pensilvânia), a primeira cidade visitada por ele após meses de confinamento por causa da Covid-19.
"Roubar não é protestar, incendiar não é protestar", afirmou Biden, acusando Trump de "incentivar" a violência.
Ao contrário do rival, Biden sempre denuncia o racismo institucional nos Estados Unidos, não hesita em citar Blake e na semana passada conversou com a família dele.
O senador democrata Chris Coons contou à AFP em Wilmington que em sua viagem o candidato democrata vai reiterar que conversou com a família de Blake, ressaltando ser contra a violência em todas as suas formas e argumentar que "apoia fortemente os protestos pacíficos que buscam a reconciliação racial e uma reforma policial".
Biden aparece na frente de Trump nas pesquisas nacionais eleitorais, mas a disputa fica mais acirrada nos principais estados que podem determinar os resultados da eleição de novembro.