Jornal Estado de Minas

Inspetores da AIEA acessam local no Irã que continua enriquecendo urânio

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) visitou uma das duas instalações nucleares do Irã que possui reservas de urânio dez vezes maiores do que os limites autorizados, segundo relatórios consultados nesta sexta-feira pela AFP.

A AIEA pede ao Irã o acesso a este local há meses, um dos dois do programa nuclear de Teerã que a organização tinha pendente.





"O Irã deu aos inspetores da Agência acesso a este local para que eles possam coletar amostras. As amostras serão analisadas" pelos laboratórios da AIEA, podem ler os relatórios.

"A agência visitará o segundo local especificado posteriormente, em setembro de 2020, em data já acertada com o Irã", especifica.

Segundo um diplomata consultado pela AFP, serão necessários três meses para que os resultados das amostras estejam disponíveis.

Um dos documentos observa que o acúmulo de urânio pouco enriquecido do Irã é cerca de dez vezes o limite autorizado. É o resultado da decisão de Teerã de deixar de cumprir suas obrigações estipuladas no acordo sobre seu programa nuclear assinado em 2015 com as grandes potências, em retaliação à retirada dos Estados Unidos do pacto.

Teerã tem reservas de 2.105,4 kg de urânio enriquecido, enquanto o acordo só permitia o armazenamento de 300 kg de urânio enriquecido em determinado formato, o equivalente a 202,8 kg do material, detalhou a AIEA.

- Contexto de pressão -

Desde o último relatório publicado pela organização da ONU em junho, o Irã não reduziu suas atividades nucleares: há três meses, sua reserva de urânio era oito vezes superiores ao limite.





Os Estados Unidos intensificaram seus esforços diplomáticos para restabelecer as sanções e estender o embargo de armas contra Teerã.

Em 2018, Washington retirou-se do acordo e voltou a impor sanções unilaterais. Em resposta, o Irã limitou sua cooperação com a AIEA.

Em 21 de agosto, os Estados Unidos, que também querem prorrogar o embargo de armas que expira em outubro, tentaram estabelecer outras sanções, que foram votadas na ONU, mas encontraram rejeição de seus aliados europeus, China e Rússia.

Contra este cenário de pressão dos EUA, Irã, países europeus, Rússia e China fecharam novamente as fileiras em Viena na terça-feira durante uma reunião.

Essa unidade foi enfraquecida pela falta de cooperação do Irã, denunciada pela AIEA, órgão responsável pelo controle de suas atividades nucleares.

Durante meses, a AIEA pediu para entrar em dois locais iranianos para fazer inspeções, mas o Irã foi contra, o que tornava o apoio dos países europeus cada vez mais insustentável.

Em meados de fevereiro, Teerã declarou que estava disposto a cancelar todas ou parte das medidas tomadas para se desassociar do acordo, somente se a Europa lhe garantisse vantagens econômicas "significativas" em troca.

O acordo de 2015 oferece ao Irã o levantamento de parte das sanções internacionais, em troca de garantias que comprovem o caráter exclusivamente civil de seu programa nuclear.