Dão mais dinheiro, porque são considerados investimentos de risco, mas seu sucesso entre os investidores é algo a se pensar em plena pandemia. A injeção de dinheiro em empresas consideradas "lixo" cresceu como espuma, nestes últimos meses, para fazer frente à crise.
A denominação dada a esses títulos de dívida "podre", de "alto rendimento", vem do inglês "junk bonds", porque a nota que lhes é atribuída pelas agências de "rating" é inferior a um determinado valor.
Em meados de agosto, as emissões dessa dívida de risco nos Estados Unidos chegavam a 274 bilhões de dólares no ano, mais do que em todo ano de 2019, conforme dados da agência Bloomberg.
A Europa registrou, por sua vez, uma "aceleração" no final do primeiro semestre, segundo a agência de classificação Fitch Ratings, atingindo 108 bilhões de euros em um ano até junho, em um mercado tradicionalmente menos desenvolvido do que o do outro lado do Atlântico.
"O apetite dos investidores por esses títulos de dívida deriva da busca por rendimento", explica Frederic Rollin, consultor sênior de investimentos da Pictet AM.
Os "junk bonds" estão entre os poucos que oferecem rendimento no atual ambiente de juros extremamente baixos.
- Bancos centrais -
O Federal Reserve (Fed, Banco Central americano) apoia as empresas rebaixadas recentemente por agências de classificação, como a automotiva Ford, ou a Occidental Petroleum, comprando suas dívidas de forma direta.
Já o Banco Central Europeu (BCE) compra dívidas de empresas bem classificadas, mas autoriza os bancos a depositarem os títulos transformados em "lixo" como fiador, quando querem tomar empréstimos.
No verão (inverno no Brasil), a imprensa financeira foi surpreendida pela empresa americana de embalagens Ball Corporation, que paga juros de 2,875% a dez anos - algo jamais visto para uma empresa, cuja qualidade de endividamento é considerada "podre".
Em comparação, a farmacêutica Johnson & Johnson, que possui o maior grau possível (AAA), paga 1,3% por um empréstimo de prazo similar.
O forte aumento dos créditos "lixo" também está relacionado com a chegada nesta categoria de empresas, cuja atividade foi rebaixada pela covid-19. Elas são conhecidas como "anjos caídos".
Em suas fileiras, está o francês Accor, que chegou à categoria "junk" em agosto, quando foi rebaixado pela agência S&P.; O grupo hoteleiro está entre as "estrelas" do setor de títulos podres.
E, no momento em que as consequências econômicas da pandemia ainda sejam nebulosas, o que dizer das empresas, cujas dívidas continuam a ser vendidas, mas que continuam caindo, em sucessivos rebaixamentos?
"As empresas que tinham alguma dificuldade antes agora têm mais", reconhece o o chefe de gestão de dívidas da Edmond de Rothschild AM, Alain Krief.
"É aqui que temos que fazer nosso trabalho, e não investir feito louco", acrescenta, citando algumas locadoras de veículos, ou fabricantes de equipamentos automotivos alemães na Europa.