Jornal Estado de Minas

Militares birmaneses confessam abusos contra rohingyas, Exército nega

Dois ex-militares birmaneses reconheceram abusos contra o povo rohingya e podem ter de prestar depoimento perante a Justiça internacional, pela primeira vez desde as atrocidades cometidas em 2017 contra esta minoria muçulmana.

O Exército alega que suas confissões foram obtidas "sob coação".





A ONG Fortify Rights e o jornal "The New York Times" revelaram depoimentos em vídeo, assistidos pela AFP, nos quais dois ex-soldados reconhecem assassinatos, estupros e outros crimes cometidos contra os rohingyas há três anos.

Também detalham nomes e patentes de seis comandantes, alguns dos quais, conforme seu relato, ordenaram: "atirem em tudo o que virem e ouvirem".

Cerca de 750.000 rohingyas ameaçados de extermínio étnico fugiram de Mianmar em 2017, perseguidos pelo Exército e por milícias budistas. Somaram-se aos 200.000 membros desta comunidade que já haviam se estabelecido em acampamentos improvisados no vizinho Bangladesh.

Os depoimentos de dois soldados foram registrados, em condições não verificadas pela AFP, por uma milícia rebelde, o Exército Arakan (AA). Este grupo é considerado "terrorista" pelo governo birmanês.

Myo Win Tun, de 33, e Zaw Naing Tun, de 30, são ex-soldados, mas "foram tomados como reféns" por milicianos AA, disse o porta-voz do Exército, o general de brigada Zaw Min Tun, à rede BBC.





"Foram ameaçados e obrigados a confessar", acrescentou.

Quando questionado pela AFP, um porta-voz do AA garantiu que eles "desertaram" e "confessaram voluntariamente os crimes de guerra".

Depois, fugiram para Bangladesh em meados de agosto e foram levados para a Holanda, de acordo com o Fortify Rights.

O Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, abriu uma investigação sobre as atrocidades cometidas contra os rohingyas. A ONG quer que os dois ex-soldados sejam processados.

É a primeira vez que membros do Exército birmanês confessam abusos contra os rohingyas com riqueza de detalhes.

Em paralelo à investigação do TPI, Mianmar enfrenta acusações de "genocídio" perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ), o mais alto órgão judicial da ONU.

Aung San Suu Kyi, que foi pessoalmente defender seu país perante este tribunal e que lidera Mianmar, de facto, admitiu no ano passado um possível uso "desproporcional" da força, mas negou qualquer "intenção genocida".

O Exército birmanês também rejeita qualquer acusação de "genocídio", dizendo que se defendeu contra ataques de rebeldes rohingyas contra postos policiais.