Israel assinou nesta terça-feira (15) acordos históricos, criticados pelos palestinos, com os Emirados Árabes Unidos e Bahrein, sob apoio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que enxerga um triunfo diplomático semanas antes das eleições em que buscará o segundo mandato.
"Depois de décadas de divisões e conflitos, estamos testemunhando o amanhecer de um novo Oriente Médio", disse o presidente republicano durante uma cerimônia de grande pompa na Casa Branca.
Após afirmar que cinco ou seis países adicionais seguiriam "muito em breve" o exemplo dos dois Estados do Golfo, Trump mencionou uma meta ainda mais ambiciosa de "sete ou oito" países, "incluindo os grandes", como a Arábia Saudita.
Junto com ele, Netanyahu chamou os acordos de "um marco na história" capaz de "encerrar o conflito árabe-israelense de uma vez por todas".
Assim, Israel estabelece formalmente relações diplomáticas com esses dois países árabes, a primeira conquista do gênero desde os tratados de paz com o Egito e a Jordânia em 1979 e 1994, respectivamente.
O líder israelense não poupou elogios ao "amigo" Trump, antes de se dirigir, em árabe, aos seus novos interlocutores: "Salaam Alaikum" (que a paz esteja com você). No entanto, ele não citou os palestinos, a maior ausência do evento, embora os ministros do Bahrein e dos Emirados Árabes Unidos tenham lembrado de sua causa.
O ministro das Relações Exteriores dos Emirados, Abdullah bin Zayed al Nahyan, comemorou "uma mudança no coração do Oriente Médio" e agradeceu pessoalmente a Netanyahu "por escolher a paz e impedir a anexação de territórios palestinos", ainda que o líder israelense afirme que essa medida foi apenas adiada.
O chefe da diplomacia do Bahrein, Abdel Latif al Zayani, por sua vez, defendeu claramente uma "solução de dois Estados" para encerrar o conflito entre Israel e os palestinos.
- "Fim da ocupação" -
Emirados e Bahrein, duas monarquias sunitas, têm em comum com Israel a animosidade a respeito do Irã, que também é o inimigo número um dos Estados Unidos na região.
Vários Estados árabes petroleiros cultivam por anos discretos vínculos com o governo israelense, mas a normalização das relações oferece amplas oportunidades, especialmente econômicas, a países que buscam superar os prejuízos provocados pela pandemia de coronavírus.
"É uma conquista de primeira classe", disse David Makovsky, do centro de estudos Washington Institute for Near East Policy. Segundo ele, para Netanyahu isto "não implica os mesmos riscos" enfrentados por Menahen Begin "quando deixou o Sinai" para o Egito ou Yitzhak Rabin quando aceitou negociar com Yasser Arafat a criação de um Estado palestino.
A "visão para a paz", plano apresentado no início do ano por Trump com o objetivo de resolver o conflito israelense-palestino, ainda está longe do sucesso. A Autoridade Palestina rejeita a iniciativa e nega a Trump o papel de mediador por ter tomado decisões favoráveis a Israel.
"Não haverá paz, segurança ou estabilidade para ninguém na região sem o fim da ocupação e (sem) respeito pelos direitos plenos do povo palestino", disse o líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abas, em um comunicado.
Ao mesmo tempo em que os acordos foram assinados, dois mísseis foram disparados contra Israel da Faixa de Gaza, um enclave palestino administrado pelo movimento islâmico Hamas. Duas pessoas ficaram feridas.
- "Facada nas costas" -
Os palestinos denunciam uma "facada nas costas" dos países árabes que aceitaram o acordo com Israel sem esperar a criação de seu Estado, convocaram manifestações. Dezenas de ativistas se reuniram para protestar em frente à Casa Branca durante a assinatura dos acordos.
O governo Trump sempre afirmou que desejava transformar a região com a aproximação de Israel e dos árabes em uma espécie de aliança contra o Irã.
O ministro das Relações Exteriores dos Emirados, Anwar Gargash, disse que "um avanço estratégico" era necessário porque "a abordagem dos árabes de não ter contato com Israel" não "ajudou as aspirações do povo palestino".
De acordo com Makovsky, o Oriente Médio vira uma "nova região" na qual, em um fato inusitado, a Liga Árabe se negou a condenar a decisão das duas monarquias do Golfo.
"Os palestinos querem esperar e ver o que acontece nas eleições americanas, mas quando a poeira baixar eles devem repensar sua posição", disse.
- Polêmica venda de aviões -
Para Trump, que até agora tinha poucos resultados diplomáticos a oferecer aos eleitores, os acordos são um êxito reconhecido até pelos adversários democratas.
Desde o acordo entre Israel e EAU anunciado em 13 de agosto, seguido pelo anunciado com o Bahrein na semana passada, republicanos não poupam superlativos para elogiar sua ação e afirmam que ele merece o Nobel da Paz.
Apesar das celebrações, algumas divergências surgiram sobre as condições do acordo com os Emirados.
Trump afirmou, nesta terça-feira, que não teria "nenhum problema" em vender aviões de combate F-35 a Abu Dhabi. Porém, esta é uma venda à qual Israel se opõe, o único país da região que possui esses caças americanos.