O cardeal australiano George Pell, absolvido em abril em um caso de pedofilia na Austrália, chegou a Roma nesta quarta-feira após uma ausência de mais de três anos, constatou a AFP.
O ex-secretário de Economia do papa Francisco acenou brevemente para os jornalistas presentes no aeroporto romano de Fiumicino, antes de entrar em um carro sem dizer uma palavra.
A visita de Pell coincide com o novo escândalo por irregularidades nas finanças do Vaticano que custaram o cargo do influente cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, acusado de desvio de fundos da Secretaria de Estado.
Pell, nomeado em 2014 para lutar contra a corrupção dentro do Vaticano, enviou uma mensagem de felicitações ao papa Francisco por ter forçado a renúncia de Becciu.
Ao contrário do que alguns meios de comunicação italianos afirmam, nenhum encontro do papa com o bispo Pell, de 79 anos, está programado, indicou o Vaticano à AFP.
Mas especialistas em temas da Santa Sé afirmam que não se pode descartar um convite do pontífice.
"Certamente será recebido por Francisco e entrará no Vaticano como um homem livre", escreveu o jornal La Repubblica.
"Será a oportunidade de Pell obter reparação, depois que muitos no Vaticano se alegraram com sua destituição", completou a publicação.
Durante o último encontro com o papa, em 27 de junho de 2017, Francisco concedeu a Pell uma longa licença para que ele pudesse retornar à Austrália e tentar limpar seu nome após acusações de abuso sexual na década de 1990.
O prelado australiano deve, teoricamente, observar uma quarentena de 14 dias.
Desde sua absolvição em um caso de pedofilia e sua libertação da prisão, Pell morava na arquidiocese de Sydney.
Ele foi condenado em março de 2019 a seis anos de prisão por estupro e agressão sexual contra dois coroinhas em 1996 e 1997 na Catedral de São Patrício em Melbourne, da qual era arcebispo.
Sua condenação, confirmada em apelação, foi finalmente anulada pelo Tribunal Superior da Austrália, que o absolveu em abril de cinco acusações de violência sexual, em razão do benefício da dúvida.
Pell, que ficou preso mais de um ano, foi então libertado da prisão e disse que o julgamento possibilitou reparar "uma grave injustiça".
O australiano, famoso por seu conhecimento dos assuntos econômicos, foi nomeado em 2014 pelo papa Francisco para chefiar uma nova Secretaria da Economia, responsável pelo controle das finanças e das despesas nas várias administrações da Santa Sé.
A tarefa despertou grande resistência interna em uma Cúria Romana (governo do Vaticano) acostumada a uma grande autonomia financeira.
Com a autorização de Francisco, Pell deveria examinar todas as operações financeiras após a série de escândalos que explodiram durante o pontificado de Bento XVI e que deram origem ao chamado "Vatileaks". Ele teve fortes confrontos com Becciu, segundo a vaticanista Franca Giansoldati.
"Nos meses que antecederam sua viagem (para a Austrália) Pell enfrentou Becciu. O cerne da questão eram duas visões diferentes de como o dinheiro da Igreja deveria ser administrado", explica.
Apesar de ter usado a força contra Becciu, que perdeu todos os direitos como cardeal, Francisco não recebeu até o momento demonstrações públicas de apoio da Cúria romana.