Um tratamento antiviral elaborado com plasma de cavalos imunizados é a esperança da Costa Rica para enfrentar a propagação crescente da Covid-19 no país e evitar a saturação dos hospitais públicos.
O Instituto Clodomiro Picado (ICP) da Universidade da Costa Rica (UCR) preparou um lote inicial de mil frascos de 10 ml cada contendo o antiviral, que está sendo testado em mais de 20 pacientes infectados.
"Esperamos poder administrá-lo aos paciente na fase inicial da doença, quando os sintomas não são severos e a carga viral não é tão grande", explicou Andrés Hernández, farmacêutico do instituto. Segundo ele, a expectativa é de que o medicamento neutralize o vírus, fazendo com que, em quatro dias, os sintomas desapareçam e o paciente volte a respirar normalmente.
O antiviral foi submetido a testes de laboratório na Universidade George Mason, localizada no estado americano da Virgínia. A instituição realizou o estudo externo e comprovou a capacidade do medicamento de anular o vírus. "Evidenciamos que o vírus foi neutralizado", declarou o pesquisador americano Charles Bailey, responsável pelo estudo da universidade americana.
- Testes em andamento -
A Caixa do Seguro Social da Costa Rica (CCSS), a cargo dos hospitais do país, confirmou que o tratamento se encontra na fase dois dos testes em 27 pacientes. Caso o resultado seja positivo, a pesquisa será estendida a um grupo maior de pessoas internadas.
A CCSS e a UCR apresentaram hoje os resultados preliminares do estudo, segundo os quais o tratamento "mostrou-se muito seguro, o que sugere uma tolerância adequada" por parte dos pacientes, indicou o médico Willem Buján, professor na Faculdade de Medicina da Universidade da Costa Rica.
Os resultados permitem autorizar a fase 3, que envolverá centenas de pacientes, embora faltem estudos para determinar a dose adequada para tratar os doentes segundo a gravidade da infecção, assinalou Buján.
A Costa Rica registra mais de 77 mil infectados e mais de 900 mortos pela Covid-19. O número de novos casos diários no país é de cerca de mil.
O cientista Alberto Alape, diretor do ICP, informou que o medicamento foi desenvolvido pela universidade mediante a injeção de proteínas do novo coronavírus em cavalos, cujo plasma gerou uma capacidade imunológica que inibe o vírus.
"Os resultados mostram claramente que os cavalos produziram uma grande quantidade de anticorpos que bloqueiam a entrada do vírus nas células humanas, o que indica que o medicamento pode ser muito eficaz", ressaltou Alape.
O ICP desenvolveu o tratamento seguindo um procedimento que usou na produção de soros antiofídicos, mediante a inoculação de cavalos. O cientista explicou que os cavalos foram inoculados com dois tipos de proteína diferentes, uma das quais serve como "chave" do vírus para infectar as pessoas. "O sistema imunológico dos cavalos foi estimulado para bloquear esta chave, é uma forma de deter a infecção."
Uma segunda versão do medicamento foi feita a partir de uma combinação de outras proteínas do coronavírus. Alepo explicou que os testes clínicos permitirão determinar qual das duas versões é mais eficaz em inibir o coronavírus nas pessoas infectadas. O cientista espera que o medicamento reduza a mortalidade e o tempo de internação dos pacientes.
Após produzir as primeiras mil doses do antiviral, o instituto espera dispor de mais cavalos, para ampliar a produção quando saírem os resultados dos testes.
O presidente da Costa Rica, Carlos Alvarado, informou que o tratamento com plasma equino será colocado à disposição de países e organizações, mediante um repositório voluntário criado com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) para compartilhar tecnologias contra o novo coronavírus.
"Este procedimento será compartilhado como capital intelectual desenvolvido no país, busca-se dividi-lo com outras pessoas e que possam replicá-lo", assinalou Alvarado.