Jornal Estado de Minas

Poeta americana Louise Glück vence Nobel de Literatura

A poeta americana Louise Glück, de 77 anos, é a vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2020 - anunciou a Academia Sueca nesta quinta-feira (8), um nome que pegou quase todos os analistas de surpresa e que reconhece uma carreira iniciada nos anos 1960.





Glück foi premiada por sua "inconfundível voz poética, que, com uma beleza austera, torna a existência individual universal", afirmou a instituição.

Louise Glück é "uma poeta da mudança radical e do renascimento", disse o presidente do Comitê do Nobel, Anders Olsson.

A infância e a vida em família da escritora nascida em Nova York, a relação estreita entre os pais e os irmãos e irmãs são alguns dos temas abordados em sua obra.

Muito discreta em relação à mídia, ela não quis dar entrevista após a premiação, informou seu agente à AFP.

O prêmio foi uma verdadeira surpresa para a própria poeta, que disse à agência de notícias TT que não esperava que a Academia a considerasse.

"Não! O que quero dizer é que sou uma poeta lírica americana branca. E pensei, bem, talvez em um século diferente, mas não agora", observou.





O Prêmio Nobel consiste em uma medalha e um quantia de 10 milhões de coroas suecas (cerca de 1,1 milhão de dólares).

Os laureados geralmente recebem seu prêmio do rei Carlos XVI Gustav em uma cerimônia em Estocolmo em 10 de dezembro, mas devido à pandemia, haverá eventos televisionados mostrando os vencedores em seus países de origem no momento da cerimônia de premiação.

Gluck, no entanto, disse estar "muito triste" com o cancelamento da cerimônia formal (pela primeira vez desde 1944), embora ele prefira ficar longe dos holofotes.

"A ideia de fazer um discurso não é o meu objetivo mais feliz, mas teria sido uma aventura muito rara para mim", disse à TT.

"É um dia maravilhoso para celebrar a beleza e o poder da poesia para simplesmente nos lembrar do que é ser humano em tempos como estes", disse à AFP Clarisse Rosaz Shariyf, diretora de programas literários da PEN America.

- Nobel feminino -

Dois anos depois do prêmio para a polonesa Olga Tokarczuk, Louise Glück é a 16ª mulher premiada com o Nobel de Literatura, em um ano de forte presença feminina.





Além de Glück, três foram premiadas nas categorias científicas do Nobel e esta temporada pode bater o recorde de mulheres laureadas (cinco em 2009). Dois prêmios ainda serão anunciados: o da Paz, na sexta-feira (9), e o de Economia, na segunda (12).

Professora da Yale University, em 1993 recebeu o Prêmio Pulitzer e o cobiçado título de "Poet Laureate dos Estados Unidos", porém não teve muita projeção fora dos Estados Unidos.

A poeta tornou-se a décima segundo americana laureada em literatura, depois de Ernest Hemingway (1954), Steinbeck (1962), Toni Morrison (1993) e, mais recentemente, Bob Dylan (2016).

Após uma série de escândalos e de polêmicas que abalaram o prêmio literário mais famoso do mundo nos últimos anos, a escolha de 2020 da Academia Sueca era especialmente imprevisível, segundo os críticos.

No ano passado, o prêmio de 2019 foi concedido ao escritor austríaco Peter Handke, mas suas opiniões favoráveis ao falecido líder sérvio Slobodan Milosevic provocaram grande polêmica.





O júri justificou que julgou a obra, não o homem. Em 2016, a Academia também surpreendeu ao premiar Bob Dylan por uma obra de duvidoso caráter literário para alguns críticos.

Depois da polêmica pelo prêmio ao compositor, um escândalo sexual abalou a Academia Sueca há três anos, o que provocou o adiamento do anúncio do prêmio de 2018 para 2019.

A Academia Sueca foi criticada pela maneira como administrou as acusações contra o francês Jean-Claude Arnault, marido de uma acadêmica e personalidade influente do panorama cultural sueco, condenado por estupro.

Este ano, os nomes do japonês Haruki Murakami, do franco-tcheco Milan Kundera, do espanhol Javier Marías, da canadense Margaret Atwood e da francesa Maryse Condé foram muito especulados.

Mas a Academia sempre preferiu os candidatos menos conhecidos aos escritores mais célebres, embora em 120 anos também tenha premiado grandes nomes da literatura.

Os países ocidentais têm vários prêmios Nobel de Literatura, mas grandes países como o Brasil nunca receberam o prêmio, enquanto a China conquistou um, com Mo Yan, em 2012, e a Índia outro, com Rabindranath Tagore em 1913.