Logo quando a população de vários países europeus estava se acostumando a retomar a vida do lado de fora de casa, o temor do agravamento da crise de COVID-19 voltou a preocupar especialistas. A Organização Mundial da Saúde fez um alerta ao bloco para que novas medidas restritivas, como quarentenas, sejam implementadas. Só na França, em um único dia de setembro foram mais de 10 mil casos de infecções pelo coronavírus. Na Alemanha, 2 mil: o maior número desde o fim de abril, no auge da crise no continente. E em Portugal, 770 infecções em um dia: a maior confirmação em cinco meses.
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Porém, há uma mudança desta segunda onda de infecções na Europa para a primeira, que ocorreu no início de março. Estudiosos no Reino Unido perceberam que as mortes por dia estavam em níveis significativamente mais baixos que a confirmação de novos casos. Lá, a média de mortes estava em torno de 50 pacientes por dia. Enquanto isso, as nova infecções ficavam em torno das 9,7 mil confirmações. Esses resultados mostram uma relação mais desproporcional se comparada à primeira onda de infecções.
Segundo Luana Araujo, infectologista e especialista em Saúde Pública pela Universidade Johns Hopkins, o menor número de mortes se dá por uma combinação de fatores, entre eles o maior conhecimento do vírus Sars-Cov 2.
“Agora nós sabemos como lidar melhor com a doença, não é que nós tenhamos uma terapia específica contra o vírus, mas hoje nós sabemos melhor como ele ataca o organismo e como que a gente consegue ajudar o organismo a passar pela fase crítica da doença a ponto da gente conseguir manter esse paciente vivo para que ele se recupere”, explica.
Um fator socioeconômico ajuda também a entender essa nova onda de infecções na Europa. A maioria dos novos diagnosticados são jovens e ricos. Para especialistas europeus, isso estaria relacionado ao fato de esse grupo ser o que mais sai de casa para frequentar pubs e restaurantes ou vai à casa de amigos.
Lockdown em Madri
Na Espanha, Madri foi obrigada a adotar novamente as ordens de lockdown que perduraram por 14 dias, após ter se tornado o epicentro da pandemia de coronavírus. A medida extrema começou em 2 de outubro e depois do período de fechamento, as autoridades médicas e políticas do país vão avaliar a necessidade de prorrogar o bloqueio total ou voltar a afrouxar as exigências.
Influência de novos hábitos
Outro fator que tem sido decisivo no número de mortes é a incorporação de hábitos de higiene ao dia a dia, que ajudam a conter o avanço do coronavírus. Entre eles, lavar as mãos regularmente, seguir o distanciamento social e, principalmente, usar máscaras em locais públicos.
Mesmo com as medidas restritivas e a mudança de hábito da população, muitos cientistas acreditavam que uma segunda onda de COVID-19 era inevitável. Isso porque países dentro e fora da Europa liberaram comércios e serviços com a ideia de que aquele primeiro lockdown seria suficiente para conter o avanço da doença.
Afinal, o que deu errado?
Segundo Luana Araujo, todos os países erraram em algum momento na hora de conter o avanço da pandemia, mas a especialista reforça que as medidas de isolamento eram a única coisa que as autoridades sabiam ser uma ferramenta útil no combate a uma doença que era completamente desconhecida até aquele momento.
Outra especificidade que Luana aponta são as diferenças regionais. “Saúde pública é contextualização se tentarmos adaptar uma medida que deu certo na Europa ao sertão brasileiro ela nunca vai funcionar e a mesma coisa com a nossa Amazônia e ao sudeste do país, nós somos muito díspares, temos realidades muito distintas e uma mesma medida não é capaz de dar o mesmo resultado em lugares tão complexos”.
Brasil está em qual onda?
Enquanto isso, o Brasil estaria ainda enfrentando a chamada primeira onda de infecção. Em um contexto geral, o país tem se mostrado em um platô, com uma tendência discreta à queda no número de casos e óbitos. Mas esta é uma visão nacional da pandemia. Se a gente olhar regionalmente, vamos ver que existe uma variedade enorme de curvas de resposta.
Segundo Luana, com o exemplo da Europa, de já ter controlado a doença e voltar a ver crescimento de casos, a gente pode entender duas coisas: a primeira é que o caminho feito até agora tem falhas que permitem essa nova ascendência, apesar de todos os esforços feitos. E, segundo, é que a facilidade de se viajar entre países de forma rápida, serve como ferramenta de perpetuação de doenças como a COVID-19.
A discrepância entre curvas em um local pode favorecer a reintrodução de doentes vindos de lugares onde a doença está descontrolada. A única forma de se resolver isso é com uma vacina segura e eficaz, amplamente e bem distribuída.
(*Estagiária sob supervisão do subeditor Rafael Alves)