O Azerbaijão anunciou, nesta quarta-feira (14), que atacou locais de lançamento de mísseis em território armênio, um passo sem precedentes que levanta temores de uma escalada do conflito na região separatista de Nagorno-Karabakh.
Pelo quinto dia consecutivo, e apesar dos constantes apelos de Moscou e do Ocidente, o cessar-fogo negociado na Rússia, supostamente em vigor desde sábado, não tem sido respeitado.
E, pela primeira vez, o Exército do Azerbaijão anunciou que havia bombardeado "sistemas de lançamento de mísseis" implantados à noite em território armênio e que, segundo Baku, eram usados para atacar o Azerbaijão.
A porta-voz do Ministério da Defesa da Armênia, Shushan Stepanian, confirmou os ataques em seu território, mas negou qualquer tentativa de ataque a áreas civis no Azerbaijão.
Em um comunicado, o Exército armênio acusou o Azerbaijão de "aumentar a geografia do conflito, atacando o território soberano da Armênia".
Nagorno-Karabakh, um território povoado principalmente por armênios, declarou independência do Azerbaijão pouco antes da queda da União Soviética. Esse movimento deflagrou uma guerra que causou 30.000 mortes e centenas de milhares de refugiados de ambos os lados na década de 1990.
Desde então, Baku acusa a Armênia de ocupar seu território e os confrontos armados são recorrentes.
As hostilidades atualmente em curso são as mais sérias desde 1994. Após quase 30 anos de impasse diplomático, o presidente do Azerbaijão, Ilham Alyev, prometeu retomar o controle deste território, inclusive à força, se necessário.
Os beligerantes se acusam mutuamente de responsabilidade por essas novas hostilidades que já causaram mais de 600 mortes. Este é um balanço apenas parcial, visto que o Azerbaijão não informa baixas militares.
- Chuva de disparos -
Perto da linha de frente, o pequeno vilarejo de Bakharly, no território do Azerbaijão, foi alvo de uma enxurrada de disparos nesta quarta-feira, de acordo com um correspondente da AFP.
Das 800 famílias que vivem na zona, em sua maioria refugiados que fugiram de Nagorno-Karabakh após a guerra na década de 1990, apenas cerca de 100 homens permaneceram.
Quanto aos separatistas, a capital Stepanakert estava tranquila nesta quarta. Até o cessar-fogo assinado no sábado, esta cidade de cerca de 55.000 habitantes estava sujeita a bombardeios permanentes e a ameaças de drones que fizeram a boa parte de sua população fugir.
O presidente de Nagorno-Karabakh, Araik Arutiunian, reconheceu que suas tropas foram forçadas a recuar em alguns lugares.
A Turquia, que defende o Azerbaijão desde o início dos confrontos em 27 de setembro, e a Rússia, que mantém uma aliança militar com a Armênia, são os árbitros do conflito.
Ancara estimou na terça-feira que é "hora de encontrar um novo mecanismo" para resolver a questão de Nagorno-Karabakh. Essa suposição apontaria a impotência do Grupo de Minsk, o mediador histórico do conflito, copresidido por Rússia, França e Estados Unidos.
Nesta quarta, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, anunciou em uma entrevista à imprensa nacional que Moscou está pronta para enviar "observadores militares" ao longo da linha de frente para ajudar a garantir a trégua.
Além de uma potencial crise humanitária, o medo da comunidade internacional é ver este conflito se internacionalizar, com a Turquia sendo acusada de enviar combatentes pró-turcos da Síria para lutar ao lado dos azerbaijanos.
A este respeito, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, foi taxativo: "Eles já têm muito o que fazer em seu país, não irão" para Nagorno-Karabakh.