Adultos sêniores, como Gregory Zec, da Flórida, um estado crucial nas eleições nos Estados Unidos, são tradicionalmente conservadores e tendem a votar nos republicanos. Este ano, porém, um dilema está mudando de curso: eles também são os mais vulneráveis ao coronavírus.
Com isso, vem aumentando entre eles a antipatia pelo presidente Donald Trump, alvo de muitas críticas por sua gestão da pandemia. Já são mais de 215.000 mortos nos Estados Unidos por covid-19.
Para o republicano Zec, "o mais importante é o coronavírus, porque está matando muita gente, e a situação está piorando".
Há dez anos, Zec, de 69, mudou com sua esposa, de 72, para Sarasota, na costa oeste da Flórida. Ele diz que vários de seus familiares e amigos ficaram doentes. Alguns foram internados na UTI.
"E a tendência parece ser que, até o final do ano, haverá tantos mortos quanto na Segunda Guerra Mundial", comentou, referindo-se a estudos que projetam 300 mil mortes nos Estados Unidos até o final de 2020.
Entre civis e militares, mais de 400 mil americanos morreram nesse conflito, que afetou o mundo entre os anos de 1939 a 1945.
Somente na Flórida, mais de 15.300 pessoas morreram.
"Não quero ser um deles e não quero que minha esposa seja", acrescenta. "Está tudo muito ruim. A magnitude é enorme", insiste Zec, que trabalhou durante 35 anos na indústria farmacêutica.
Ele preferiu não revelar em quem votou em 2016, mas agora é categórico ao afirmar que votará contra Trump.
A forma como o presidente lidou com o contágio do coronavírus e retornou teatralmente à Casa Branca após uma breve hospitalização não ajudou em nada a (re)conquistar sua simpatia.
"Quando ele saiu do helicóptero, achei patético. Estava cheio de bronzeado em spray, uma maquiagem que não gosto de ver em um homem, e ficou na varanda como Benito Mussolini", lembrou, fazendo menção ao líder italiano que se aliou aos nazistas alemães na Segunda Guerra Mundial.
- Um estado-chave e imprevisível -
As pesquisas sugerem que esse eleitorado, um bastião republicano, está-se deslocando lenta, mas consistentemente,na direção do oponente democrata, o ex-vice-presidente Joe Biden.
Uma sondagem de 7 de outubro da Universidade Quinnipiac mostra a vantagem confortável de Biden sobre Trump (55% contra 40%) entre aqueles acima de 65 anos na Flórida.
Os que votaram nulo, ou em um terceiro candidato em 2016, também estão se inclinando para o ex-vice-presidente, disse à AFP o professor de Ciência Política Eduardo Gamarra, da Florida International University.
Biden deixou claro que percebeu essa mudança, ao visitar a Flórida na terça-feira (14) para falar aos idosos do estado.
"O único velho com quem Donald Trump se preocupa é o velho Donald Trump", disse o democrata de 77 anos, em uma pequena reunião em uma comunidade de aposentados, em Pembroke Pines, ao norte de Miami.
"Ele nunca se importou com vocês. Vocês são dispensáveis, esquecíveis, vocês são praticamente ninguém. É assim que ele vê vocês", afirmou.
Gamarra é cauteloso com essas tendências, porque ainda faltam três semanas para as eleições, e a situação "é muito volátil".
Ele diz, no entanto, que "tem havido um movimento, principalmente entre os maiores de 65 anos (...) e provavelmente devido ao tema da pandemia".
Com 14 milhões de eleitores, a Flórida tem, historicamente, a maior proporção de idosos nos Estados Unidos (20,5%). Aposentados de todo país tendem a preferir este estado, devido ao seu clima subtropical quente.
Ao mesmo tempo, a Flórida é crucial na eleição, porque contribui com 29 dos 270 votos do Colégio Eleitoral necessários para ganhar a Presidência. Para aumentar o suspense, suas tendências são impossíveis de prever.
Em 2000, por exemplo, o republicano George W. Bush chegou à Casa Branca, graças a uma diferença de 537 votos no estado. Em 2016, Trump venceu na Flórida com uma margem de 1,4 ponto.
- Ver (ou não ver) os netos -
Por isso, os movimentos nas pesquisas, embora leves, podem ser significativos.
Neste ano, acrescenta Gamarra, a diferença na Flórida pode ser feita pela pequena comunidade venezuelana, ou pelo maior número de votos de cubano-americanos, ou por decepcionados aposentados brancos do Partido Republicano.
"Os idosos da Flórida têm as chaves da Casa Branca", disse Lorraine Tuliano, presidente do braço de Orlando da Aliança dos Aposentados Americanos da Flórida.
"Foram sete meses bastante devastadores", acrescentou.
"Não vejo minha mãe, ou minha família, há sete meses. Não acho que o governo Trump entenda como as pessoas normais vivem", criticou.
A terceira idade da Flórida que votará em Biden costuma dar tímidas demonstrações de força em caravanas de carrinhos de golfe na comunidade The Villages, a maior região para aposentados da Flórida e um dos mais sólidos redutos eleitorais de Trump.
No sábado, o vice-presidente Mike Pence foi a esta localidade, onde pediu aos simpatizantes que ignorem as pesquisas e votem para que a "América continue sendo a América".
Naquele dia, de acordo com fotos postadas na página do Villages Democrats no Facebook, um avião sobrevoou a cidade, agitando uma faixa endereçada aos mais de 100.000 idosos que lá residem.
"Pence é a razão pela qual você não pode ver seus netos", dizia a mensagem da faixa.